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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Mistificações sobre a crise hídrica

A ilustração também é uma mistificação alegórica 


A mídia enfurecida de Banânia finalmente comprou a estiagem em SP e procura estendê-la o mais amplamente possível, para criar situações favoráveis a desestabilização nacional para auxiliar nos seus objetivos inconfessáveis de perpetuação. Como não poderia deixar de ser estão enganando a população em diversos níveis de novo, de maneira que se faz necessário desmistificar alguns pontos sobre a crise hídrica em curso. Felizmente aqui em SC e mais especificamente na nossa região norte catarineta neste momento não estamos submetidos as situação crítica, de maneira que vamos deslocar nosso quadro analítico a SP onde o problema criou dimensões próprias.


Vamos às mistificações que está a se vender ao vulgo:

1- “Não choveu e por isso está faltando água”. Essa afirmação é cientificamente incompleta e se configura como falsa. Desde o principio dos tempos temos períodos chuvosos e de estiagem, que historicamente são descritos estatisticamente. São fenômenos absolutamente naturais. A base de dados brasileira (e de São Paulo) possibilita análises precisas desde o século XIX e até projeções anteriores a partir de modelamentos matemáticos. Um sistema de abastecimento eficiente precisa ser projetado seguindo essas premissas, e devem sempre levar em conta o fator de “recorrências” (ex: estiagens que ocorram a cada períodos, de 15, 25, 50 e 100 anos).

2- “A causa é o aquecimento global”. Existem centenas (ou até milhares) de estudos sobre essa questão, que produzem igual numero de resultados todos diferentes, mas poucos estudos verdadeiramente confiáveis para São Paulo ou áreas especificas do Brasil ou para qualquer outro lugar do planeta. O que se deve considerar é que o problema aqui é de escala de grandeza. A menos que estejamos realmente vivendo uma catástrofe global repentina (que não parece ser o caso), a mudança nos padrões de chuva não atingem porcentagens tão grandes capazes de secar vários reservatórios de um ano para o outro. Mais estudadas são as mudanças climáticas locais por causa de ocupação urbana desordenada. Isso sim é concreto e pode trazer mudanças radicais também altamente localizadas. Agora o problema é outro: as represas principais que abastecem a área metrolpolitana, do sistema Cantareira estão longe demais do núcleo urbano adensado de SP para sentir efeitos como de ilha de calor. A escala do território é outra, muito maior.

3- “Não chove nas Represas”. Mais uma simplificação grosseira. O volume do reservatório depende de vários fluxos, incluindo a chuva sobre o espelho d’água das represas. A chuva em regiões de cabeceira, por exemplo, pode recarregar o lençol freático e assim aumentar o volume de água dos rios. O processo é muito mais complexo.

4- “As próximas chuvas farão que o sistema volte ao normal”. Isso já é mais difícil de afirmar e começa a se mostrar totalmente equivocado. A recuperação desses reservatórios pode levar anos, quiça décadas. Realisticamente São Paulo vai ter duas opções a curto-médio prazo:

(a) usar fontes alternativas de abastecimento antes que possa voltar a contar com as represas;

(b) caminhar para uma redução drástica na economia para que haja diminuição de consumo (há relação direta entre movimento econômico e consumo de água).

5- “Não existe outras fontes de abastecimento que não as represas atuais”. Afirmação duplamente equivocada para justificar a atuação da Sabesp nos moldes atuais e dar continuidade a eles. Primeiro porque sempre se pode construir represas em lugares alternativos mais próximas ou mais distantes (sobretudo em um país com esse recurso abundante como o Brasil) e transportar a água por bombeamento. O problema ai passa a ser de ordem econômica já ai deverá se agregar o custo que de água bombeada de longe sairia muito caro. Outro embuste é que não se poderia usar água subterrânea. Não existe um maior impedimento técnico para isso fora novamente a questão de custos. O Estado de São Paulo tem ampla reserva de água subterrânea (inclusive o chamado Aquífero Guarani), de onde é possível tirar água, sobretudo em momentos de crise. Novamente, o problema é, como vimos, o custo de se trazer essa água de longe, o que certamente que afetaria os lucros da Sabesp.

6- “Precisamos economizar água”. É!... mas avança para ser outra simplificação. Há de se cercar os grandes consumidores (indústrias ou grandes estabelecimentos multiuso) para que façam sua lição de casa a sério, mas principalmente atacar decididamente a perda de água por falta de manutenção do sistema, que representam os maiores gastos para as concessionárias e afetam seus lucros. Infelizmente o que se apresenta ao distinto publico, os números oficiais, estão camuflados. A seguinte conta nunca fecha: consumo total = esgoto total + perda + água gasta em irrigação. Estima-se que as perdas só de distribuição estejam entre 30% e 40%. Ou seja, essa quantidade vaza na tubulação antes de atingir os consumidores. Água tratada e perdida. Os índices elevados não são normais e são resultados de décadas de maximização de lucros da Sabesp ao custo de uma manutenção precária e porca da rede e de seus sistemas.

7- “Não há racionamento”. Agora já há... O governo de SP fez a mídia e a população de boba. Em lugares pobres o racionamento já acontece há meses, dia sim, dia não (e mais recentemente dia sim, outro também). É claro que, historicamente, as populações pobres são as que sempre sentem mais esses efeitos (lembremo-nos d as constantes interrupções no fornecimento de água no começo do século XX nos bairros operários das várzeas, como o Pari). A história se repete.

8- “O racionamento é a opção”. Essa afirmação é chula e perigosa porque coloca vidas em risco. Já como praticamente todas as construções na cidade têm grandes caixas d’água, o racionamento apenas tem o mérito de diminuir o problema das perdas da rede (vazamentos), pois com o corte do abastecimento o vazamento também se anula. É tudo que a Sabesp quer: em momentos de crise fazer racionamento e reduzir as perdas; sem diminuição de consumo, sem aumentar o controle de vazamentos. O custo disso?... A saúde pública. A mesma trinca por onde a água sai no vazamento não solucionado, se não houver pressão dentro do cano, se transformará em um ponto de entrada de poluentes do lençol freático nojento da cidade com saneamento precário. Ai se estará bebendo, sem saber, água poluída porque a poluição entrou pela rede urbana. Por isso que agências de saúde internacionais exigem sempre pressão mínima dentro dos canos de abastecimento.

9- “Confiar na Sabesp”. Vixe!... A Sabesp é gerida para maximizar lucros dos acionistas. Não está preocupada, nunca esteve, em entregar um serviço de qualidade (exemplos são vários: a negligência no saneamento que polui o Rio Tietê, o uso de tecnologia obsoleta de tratamento de água com doses cavalares de cloro e, além, da crise no abastecimento decorrente dos pequenos investimentos no aumento do sistema de captação). A Sabesp é apenas herdeira de um sistema que já teve várias outras concessionárias: Cantareira Águas e Esgotos, RAE, SAEC etc. A empresa tem hoje uma sociedade anonima por ações concessão de abastecimento e saneamento. Talvez fosse  o momento de se discutir a cassação dessa outorga, uma vez que várias das obrigações incialmente previstas não foram cumpridas. Além, é claro, de uma nova administração no Governo do Estado, ao menos preocupada em entregar serviços público e não lucros para meia dúzia apenas.


Conclusões: a crise no abastecimento tem uma inegável componente  natural, mas vai ser grandemente amplificada como resultado de uma gestão voltada para a maximização de lucros da concessionária e de um Governo incompetente.

É o que há!... mas por sorte nosso povo não perde o humor


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