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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Um máximo venturoso de luxo ano de 2015 é o desejo dos índios daqui


Que em recesso aqui do blog estão assim, até algum dia da 2ª semana de janeiro.

Felicidades a todos...


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Utilidade histórica - simetria burra defendida por acólitos da Dura de 1964




por Luis Fernando Verissimo, no (vixe, vixe...) O Globo


Na reação ao relatório da Comissão da Verdade sobre as vítimas da ditadura, afirma-se que, para ser justo, ele deveria ter incluído o outro lado, o das vítimas da ação armada contra a ditadura. Invoca-se uma simetria que não existe. Nenhum dos mortos de um lado está em sepultura ignorada como tantos mortos do outro lado. Os meios de repressão de um lado eram tão mais fortes do que os meios de resistência do outro que o resultado só poderia ser uma chacina como a que houve no Araguaia, uma estranha batalha que — ao contrário da batalha de Itararé — houve, mas não deixou vestígio ou registro, nem prisioneiros. A contabilidade tétrica que se quer fazer agora — meus mortos contra os teus mortos — é um insulto a todas as vítimas daquele triste período, de ambos os lados.

Mas a principal diferença entre um lado e outro é que os crimes de um lado, justificados ou não, foram de uma sublevação contra o regime, e os crimes do outro lado foram do regime. Foram crimes do Estado brasileiro. Agentes públicos, pagos por mim e por você, torturaram e mataram dentro de prédios públicos pagos por nós. E, enquanto a aberração que levou a tortura e outros excessos da repressão não for reconhecida, tudo o que aconteceu nos porões da ditadura continua a ter a nossa cumplicidade tácita. Não aceitar a diferença entre a violência clandestina de contestação a um regime ilegítimo e a violência que arrasta toda a nação para os porões da tortura é desonesto.

O senador John McCain é um republicano “moderado”, o que, hoje, significa dizer que ainda não sucumbiu à direita maluca do seu partido. Foi o único republicano do Congresso americano a defender a publicação do relatório sobre a tortura praticada pela CIA, que saiu quase ao mesmo tempo do relatório da nossa Comissão da Verdade. McCain, que foi prisioneiro torturado no Vietnã, disse simplesmente que uma nação precisa saber o que é feito em seu nome. O relatório da Comissão da Verdade, como o relatório sobre os métodos até então secretos da CIA, é um informe à nação sobre o que foi feito em seu nome. Há quem aplauda o que foi feito. Há até quem quer que volte a ser feito. São pessoas que não se comovem com os mortos, nem de um lado nem do outro. Paciência.

Enquanto perdurar o silêncio dos militares, perdura a aberração. E você eu não sei, mas eu não quero mais ser cúmplice.


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Golpismo - uma outra leitura - a paranóia dos blogs sujos



por Igor Felippe, no Escrevinhador / revista Fórum

A aprovação da prestação de contas de campanha de Dilma Rousseff e do Comitê Financeiro Nacional do PT nas eleições 2014 pelo plenário do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), por unanimidade, jogou um balde de água fria nos analistas que “anteviram” uma operação para dar um golpe institucional no país.

A cristalização da leitura de que a direita se movimenta para dar um golpe e derrubar a presidente Dilma é um espantalho que tira o foco das forças democráticas, progressistas e populares.

É evidente que setores minoritários defendem o “Fora Dilma”, tanto por meio do impedimento pela responsabilização nos casos de corrupção na Petrobras como pela deslegitimação das contas da campanha da petista. Uma ala menor ainda advoga por um golpe militar. No entanto, as grandes placas tectônicas da política brasileira não se movem para catapultar Dilma do Palácio do Planalto.

Um golpe é uma operação bastante complexa e perigosa, que vai para além da batalha das ideias, com manchetes de jornais, discursos na tribuna do Congresso, declarações de ministros da Suprema Corte ou protestos isolados na Avenida Paulista.

A luta política tem diversas esferas, passando pela econômica, social, institucional e ideológica.

Para acompanhar os movimentos dessa disputa, que se manifesta de forma permanente nas questões cotidianas, é fundamental observar cada uma dessas esferas. As avaliações que apontam para um golpe contra a presidente Dilma Rousseff na esquina da República superestimam a dimensão ideológica da disputa, deixando em segundo plano as outras esferas. Um golpe ou um processo de impeachment, mesmo com alguma legitimidade institucional, tem consequências imprevisíveis e inaugura um período de insegurança jurídica, que assusta até mesmo a burguesia.

Por isso, a tática da classe dominante não passa por um golpe ou pelo impedimento, mas por um sangramento profundo da presidente Dilma e do PT durante esses quatro anos.

Dilma não é Fernando Collor de Mello. Se o sinal amarelo do golpismo ascender pra valer, a presidente tem um partido organizado nacionalmente, movimentos populares, sindicatos, entidades estudantis, grupos de intelectuais reconhecidos, blogueiros comprometidos com a democracia, relações internacionais, articulações com os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e Unasul (União de Nações Sul-Americanas) para defender a legalidade.

Até mesmo setores que se identificam com a oposição não necessariamente aceitariam uma ruptura constitucional.

A classe dominante brasileira não tem nenhum compromisso com a democracia, mas sabe que uma aventura de caráter golpista teria como consequência uma radicalização política em torno de uma polarização entre os setores democráticos e os segmentos golpistas, que teria um desfecho imprevisível. Essa tática tumultuaria ainda mais o quadro econômico, que é o maior pesadelo para os diversos segmentos da burguesia. O que está em processo não é derrubar o PT com uma paulada, mas aprofundar um processo de rendição do governo, sangramento político e desconstrução moral do partido, dentro de um quadro de crise econômica que intensifica as contradições.

Por isso, o espantalho do golpismo cria um alarmismo que roda em falso, porque não toca as contradições centrais. No curto prazo, a burguesia quer um governo fragilizado, que possa ceder todos os anéis sob a ameaça de perder os dedos. Assim, os agentes do mercado têm melhores condições para chantagear o governo, dirigir a política econômica e operar medidas para fortalecer seus interesses. Já os partidos e parlamentares fisiologistas aproveitam o quadro para ganhar nacos do Estado, cargos nos ministérios e estatais, além da liberação de emendas.

Para o longo prazo, os inimigos do projeto neodesenvolvimentista em curso – como as frações da burguesia associadas ao capital internacional, os partidos de oposição de direita e a velha mídia – fazem uma operação desgaste político para arrancar do peito dos brasileiros e brasileiras, especialmente dos mais pobres, o reconhecimento das conquistas sociais e a gratidão com o grande construtor dessas políticas, o ex-presidente Lula.

A vitória de Dilma em um quadro assustadoramente adverso demonstrou a dimensão do sentimento do povo brasileiro em relação às políticas identificadas com Lula e com o PT, apesar da campanha permanente de oposição da velha mídia e da estratégia de desmoralização do petismo a partir do caso do Mensalão. Esse sentimento é considerado pela classe dominante um câncer que não pode ser arrancado de forma brutal, mas precisa ser tratado com sessões diárias e pesadas de “quimioterapia” pelas ondas da televisão e do rádio.

Desde a crise do Mensalão, a oposição tenta desgastar o governo e, até agora, não conseguiu vencer a eleição presidencial. Chegaram muito perto neste ano, mas perderam. Assim, atuam para aprofundar o sangramento para ganhar musculatura em 2016 e vencer em 2018, ainda mais com a perspectiva de enfrentar Lula.

A deterioração do quadro econômico, a crise do sistema político e a dimensão da Operação Lava Jato apontam para um período extremamente difícil para a presidente Dilma e abrem uma janela histórica para a oposição partidária de direita. Para além de retomar a presidência, os setores conservadores querem destruir os laços de identificação do povo brasileiro com Lula e o PT.

Os próximos quatro anos serão de guerra permanente da oposição de direita e da velha mídia, que não baixarão a guarda porque não querem correr o risco do governo tomar medidas para recompor as forças sociais e avançar com o projeto de desenvolvimento e distribuição de renda, por meio da intervenção do Estado. A oposição partidária ao governo – com suas ramificações no Estado, especialmente no Poder Judiciário – mantém o tom político elevado e trabalha para desgastar ao máximo a presidente Dilma e o PT.

Apesar da derrota no 2º turno da eleição presidencial, as lideranças oposicionistas mantêm a ofensiva, tendo como base os mais de 50 milhões de votos recebidos por Aécio Neves. Por isso, trabalham noite e dia para corroer a autoridade do governo na sociedade, no mercado, no Congresso Nacional e no Poder Judiciário, enquanto Dilma está preocupada em governar e, o PT, com a sobrevivência dentro do time do segundo mandato. O governo apanha, à espera do fim do round.

A oposição ataca o governo, a mídia repercute e amplifica, o Poder Judiciário e o Ministério Público investigam, parte dos depoimentos são vazados, a mídia divulga trechos, a oposição ataca o governo, atrai uma parte da “base aliada”, convoca autoridades do governo e instaura CPIs, a mídia faz a cobertura…

Esse é o círculo vicioso da luta política no país, desde que o PT chegou ao governo federal, em 2003. Esse modus operandi tem mais ou menos êxito a depender da capacidade de coesão da base social e política em torno do projeto em curso. Em um quadro de dificuldades econômicas, crise política e radicalização da direita, os impactos são maiores. No entanto, não há novidades em relação aos procedimentos dos setores conservadores, mas na intensidade da ação da oposição.

A direita está raivosa, tem mostrado seus dentes, rosnado e latido. Dessa forma, faz a luta ideológica permanentemente. Assim, é necessário localizar com precisão o lugar do “golpismo” na estratégia global. Os rumores golpistas são um tempero para dar um sabor de crise institucional, corroer a legitimidade da presidente, mostrar a fragilidade do governo, colocá-lo na defensiva e criar um clima de paralisia. Assim, o “golpismo” é funcional, mas não está no centro da tática dos opositores do governo Dilma. Claro que esse quadro pode mudar, mas não há evidências de que valha a pena para a classe dominante optar por um caminho tão tortuoso.

O efeito perverso da paranoia anti-golpista é levar ao governismo radical, que neutraliza os setores democráticos e populares, que ficam na defensiva e admitem cada passo atrás do governo. Com isso, abrem mão de fazer pressão para puxar o governo para a esquerda, que é a única saída para os setores progressistas. O governo Dilma só sairá das cordas se der um passo à frente, que reorganize as forças sociais antineoliberais, para partir para a ofensiva.

Infelizmente, os primeiros sinais depois da eleição demonstram que a opção foi dar um passo atrás, recompondo com os segmentos neoliberais, o que inviabiliza um salto para um projeto de desenvolvimento nacional. No entanto, o impacto no Congresso Nacional da Operação Lava Jato dará contornos dramáticos à batalha da reforma política. No quadro de recrudescimento da crise institucional, os setores conservadores lançarão a carta do impeachment de Dilma, que obrigará o governo recuar ainda mais, inviabilizando o projeto em curso.

A única carta que poderá tirar o governo da defensiva e mudar o quadro é a convocação de uma Assembleia Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político, a partir de um processo de luta social que reorganize os setores progressistas, colocando no centro da crise do conjunto do sistema político para fazer o enfrentamento ao sequestro da política institucional pelo poder econômico.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Industria farmacêutica e seus velhos métodos cachorros




por Ralph Nader no Couterpunch


Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net, com polimento dos índios aqui, para o vernáculo tupinambá




Duas notícias recentes sobre a voraz indústria farmacêutica deveriam despertar o indolente Congresso dos EUA para iniciar investigações sobre os preços de medicamentos imprescindíveis para manter pacientes vivos ("paga-ou-morre") que são demasiado comuns.

A primeira informação, um artigo na primeira página do New York Times falava da fibrose cística e da Fundação Cystic Fibrosis, que há quinze anos investiu 150 milhões de dólares na companhia de biotecnologia Vertex Pharmaceuticals, para desenvolver um medicamento para esta grave doença pulmonar.

No dia 19 de novembro, a Fundação anunciou um rendimento de 3,3 bilhões de dólares como resultado dessa iniciativa. O Kalydeco, o medicamento desenvolvido com esse investimento, é tomado diariamente por pacientes de fibrose cística (os que podem pagar) e custa 300.000 dólares ao ano por paciente. Quem pode pagar esse preço?...

A segunda notícia provem do Tufts Center for the Study of Drug Development, uma instituição financiada pela indústria farmacêutica. Joseph DiMasi, do Tufts Center, afirma que o custo de desenvolver um novo medicamento é de perto US$ 2,558 bilhões, muito superior ao cálculo anterior de 802 milhões de dólares que o mesmo centro mencionou em 2003.

Os promotores da indústria farmacêutica utilizam esse absurdo valor para justificar altíssimos preços de medicamentos aos consumidores. Infelizmente, como seria de se esperar, a crítica a esse valor exagerado não recebeu a atenção adequada na mídia.

Segundo DiMasi, a metade desse valor seria justificada pela oportunidade perdida se a companhia farmacêutica investisse o seu dinheiro em outros projetos. Isso reduz o seu cálculo quase à metade, 1.395 milhões de dólares. Esta manobra dá um novo significado à palavra “inflação”. Segundo o economista James P. Love, fundador de Knowledge Ecology International, DiMasi também ignora convenientemente subsídios governamentais como os créditos tributários para os chamados medicamentos órfãos, subsídios estes pra pesquisas em Institutos Nacionais de Saúde que recebem apoio governamental ao custo dos ensaios clínicos de qualificação (veja keionline.org).

Love acrescenta que as companhias farmacêuticas gastam “bem mais em marketing que em pesquisa e desenvolvimento”. Rohit Malpani, diretor de Política e Análise dos Médicos sem Fronteiras (que recebeu o Prêmio Nobel em 1999), diz que quem acreditar nos números de Tufts, cuja alegada análise de dados é em grande parte secreta “provavelmente também acreditará que a Terra é plana”.

Malpani cita o próprio diretor executivo de GlaxoSmithKline, Andrew Witty, que diz que o valor de um bilhão de dólares para desenvolver um medicamento é um mito.

Malpani acrescenta que “o que sabemos de estudos passados e da experiência de criadores de medicamentos sem fins lucrativos é que se pode desenvolver um novo medicamento por uma fração do custo sugerido pelo relatório de Tufts. O custo de desenvolver produtos é variável, mas a experiência mostra que se podem desenvolver novos medicamentos por apenas 50 milhões de dólares, que podem chegar a 186 milhões se se levarem em conta os fracassos... Não só os contribuintes pagam uma percentagem considerável da pesquisa e desenvolvimento da indústria, como também na realidade pagam duas vezes, porque no fim ainda têm de pagar os altos preços dos medicamentos em si”.

Malpani referia-se primordialmente aos EUA, onde as companhias farmacêuticas não mostram qualquer gratidão pelos generosos créditos tributários e pelo financiamento com dinheiro público para pesquisa e desenvolvimento (que na maior parte das vezes obtêm gratuitamente). Junte-se a ausência de controles de preços e verifica-se que o consumidor/paciente paga os preços dos medicamentos mais elevados do mundo.

Outro aspecto geralmente ignorado é qual a percentagem dos valores envolvidos em pesquisa e desenvolvimento da indústria é que se dirige a produtos que mantêm, em vez de melhorar, as condições de saúde, os medicamentos denominados “eu também”, que são lucrativos mas não beneficiam a saúde dos pacientes.

Além disso, a lucrativa indústria farmacêutica foi sempre incapaz de restringir a sua enganosa promoção de medicamentos e a revelação inadequada dos efeitos secundários. Cerca de 100 norte-americanos morrem cada ano devido aos efeitos colaterais e adversos de medicamentos. Dezenas de milhões de dólares dos consumidores são desperdiçados em remédios que têm efeitos adversos em vez de produtos para as mesmos doenças com menos efeitos colaterais (veja citizen.org/hrg).

Durante uma visita no ano 2000 com médicos e cientistas militares ao Walter Reed Army Hospital, perguntei quanto gastam para investigar e desenvolver as drogas contra a malária e outros medicamentos. A resposta: de cinco a dez milhões de dólares por medicamento, o que incluía os ensaios clínicos e os salários dos pesquisadores.

Esta “entidade de desenvolvimento de medicamentos” do Departamento de Defesa foi criada porque as companhias farmacêuticas não quiseram investir em vacinas ou medicamentos terapêuticos para a malária, que então era a segunda causa principal da hospitalização de soldados dos EUA no Vietnam (a primeira eram as feridas no campo de batalha). Portanto a administração militar decidiu preencher este vazio pelos seus próprios meios, com considerável sucesso.

O problema da mesquinhez da mimada indústria farmacêutica privada com respeito ao desenvolvimento de vacinas continua a existir. A tuberculose, resistente aos medicamentos, e outras doenças infecciosas crescentes em países em desenvolvimento continuam a custar milhões de vidas a cada ano. A epidemia de ebola é uma ilustração letal de semelhante negligência.

A sobrevivência de muitos milhões de pessoas é demasiado importante para deixá-la em mãos das empresas farmacêuticas. Por uma pequena parcela do que o governo está a esbanjar na extensão e no fracasso de guerras ilegais no exterior, pode ir além do exemplo do Walter Reed Army Hospital e converter-se numa superpotência humanitária que produza vacinas e medicamentos para salvar vidas, porque o sofrimento dos doentes deve importar mais que a chuva de benefícios das grandes companhias farmacêuticas, as Big Pharma.




quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Corrupção, essa incompreendida (2) - O Corruptor/Empreendedor



Excerto e variação livre sobre ensaio de Eugênio Bucci, no OESP e OI

Se essa tal “livre-iniciativa” precisa lubrificar (e não apenas “molhar”) a mão do agente público para conseguir empreender, de que “empreendedorismo” estamos falando, afinal de (e das) contas?... Lembrem-se da quantidade de zeros envolvida para conseguir uma licença, uma aprovação, o andamento de algum processo... Somados esses esforços chegam brincando na casa dos bilhões... bilhões de reais. Muita coisa.

Estamos diante não mais de um desvio de um lobista qualquer que foi lá e amaciou o deputado, hoje isso não tem mais eficácia. Precisa cooptar uma bancada, um sistema... estamos diante de um modo de produção extenso, complexo e generalizado, implantando há décadas com protocolos bem azeitados e regras próprias, não escritas e, principalmente, não faladas.

Esse modo de produção ou inserção em alguma situação de mercado não pode ser chamado de empreendedorismo, pois depende de forma vital de corrupção como método e como investimento inicial (uma taxa de ingresso, se preferir) para poder se estabelecer.

Então chegamos à triste conclusão de que aquele círculo virtuoso que se presume no empreendedorismo precisa do gatilho vicioso da propina, do impulso movido a suborno, dos préstimos providenciais   da velha conhecida chamada “bola”. Coisa mais degradante!...

Mas há uma pedra no meio do caminho: Um dos bons desafios dessa história é tentar entender quem está corrompendo quem. Altíssimos executios de empresas privadas foram presos, no recente caso da Petrobras x Empreiteiras. Seriam os corruptores?... A presidente da República viu nisso um ineditismo policial admirável e declarou algo na linha do “nunca antes”. Se o corruptor for mesmo o empresário (o corromp-empreendedor em pessoa), o raciocínio presidencial até que tem fundamento.

Mas para além dessa linha de interpretação, porém, há outra possibilidade especulativa: 

Os “operadores” - essa nova categoria da teoria econômica em tempos de corromp-empreendedorismo de tantos partidos (de interesses e até políticos), mancomunados por detrás dos gabinetes com elevadores privativos nas sedes das Petrobrás, Cemig’s, Metrô’s, Dersa’s, e quase TODAS as outras, podem também atuar como polos ativos da corrupção. De que modo?... Muito simples: eles agiriam para forçar uma aliança, uma relação promíscua – e criminosa – entre representantes do mercado e servidores públicos, porque o que os permitiria extrair benefícios dessa aliança, transformando as empresas privadas de “corruptores” em doadores fiéis e pontuais de barris de dinheiro para as campanhas eleitorais e para outras régias regalias.

Quer dizer: se o corruptor privado “compra” o funcionário público para lucrar com facilidades diversas e sem ter de se aborrecer com concorrentes, o “operador” partidário “compra” o corruptor privado para garantir uma caixinha segura, mensal, líquida e certa (mas claro, errada). E agora?... Quem corrompe quem?...

Então, um jeito ou de outro, por um ângulo ou por outro, por uma lógica ou por outra, o fato é que os corruptores, partidários, públicos e privados, bem como os corruptos, dos dois lados do balcão, foram alcançados pelas investigações e estão mais visíveis e isso, claro, é positivo.



Vamos ver como termina isso?!... ou no fim vamos ter só mais uma grandiosa pizza...