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domingo, 6 de julho de 2014

No Brasil, somos tribo



por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa 



A resistência ao formalismo comprometedor das convenções que regem o relacionamento nas comunidades cosmopolitas, nas quais o coletivo se forma pela demarcação explícita do espaço individual, exige o espelho do outro como referência. 

No Brasil, somos tribo, e nossa tendência, como sociedade, é idealizar a possibilidade de uma única e imensa taba. Essa natureza tribal desponta ao longo da Copa do Mundo, produzindo o jogo quase infantil das torcidas que se misturam, nomeando, a cada partida, o adversário comum que deve ser provocado, com os chistes e as gozações cujo objetivo é trazer todos, até mesmo os argentinos, para a comunidade informal e descontraída dos adeptos do futebol.

Ao impor uma agenda em tudo contrária a essa natureza, nos meses que antecederam a abertura da Copa do Mundo, a imprensa hegemônica fez uma aposta arriscada na ruptura dessa teia de vínculos sociais que se forma em todas celebrações por estas terras. Como na música de carnaval, tudo pode acabar em cinzas simbólicas na quarta-feira, ou no dia 14 de julho, a segunda-feira que vem depois da partida final no Maracanã.

Mas o mais importante já aconteceu: foi o resgate dessa natureza cordial, a chance de um reencontro do brasileiro consigo mesmo. Percebem-se, aqui e ali, resquícios do espírito-de-porco negativista e ranzinza que se incorporou a certa parcela da população, tida como mais educada e supostamente de renda mais elevada. 

Os leitores de jornal são, majoritariamente, integrantes desse contingente de brasileiros que não se sentem necessariamente parte da sociedade onde desfrutam de privilégios. Foi para eles que se dirigiram as mensagens rancorosas da imprensa nos últimos meses, e deles fluiu para o ambiente midiatizado a repercussão do dissenso, contrário ao espírito festivo da maioria.

Os onze que entram em campo são o núcleo dessa história, o foco de todos os olhares e o repositório das esperanças de que a festa poderia ser completa. Mas o triunfo no campo de jogo já não é questão de vida ou morte: o Brasil real, aquele que se encanta com a simplicidade da bola, desfila seu orgulho por aí.

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