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quarta-feira, 12 de março de 2014

Brasil pode ser a Ucrânia amanhã?... em 35 lições



por Adriano Benayin, no Correio da Cidadania


1. O móvel da oligarquia financeira para desencadear guerras em grande escala, bem como conflitos localizados, é ganhar mais poder, subordinando países e regiões ao império e enfraquecendo os que poderiam conter essa expansão.

2. Na 1ª e 2ª Guerras Mundiais, respectivamente França versus Alemanha e Alemanha versus Rússia (União Soviética), as potências anglo-americanas só se engajaram com intensidade no final, para ocupar espaços, estando aqueles contendores desgastados.

3. As duas grandes conflagrações eclodiram após longos períodos de depressão econômica e serviram como manobra de diversão em face das consequências sociais e políticas da depressão.

4. No século XXI, os conflitos armados grandemente destrutivos estão tornando-se mais frequentes após o golpe preparatório: a implosão das Torres Gêmeas, em setembro de 2001.

5. Os principais alvos têm sido países islâmicos, envolvendo a geopolítica da energia. Desde 2001, o Afeganistão está sob agressão. Em 2003, destruição e ocupação do Iraque. Ataques a Sudão, Somália e Iêmen. Em 2011, a brutal agressão e intervenção da OTAN na Líbia. Durante todo o tempo, pressão e hostilização a Síria e Irã.

6. Em 2013, a agressão à Síria foi intensificada com a invasão por mercenários e extremistas, grandemente armados, com participação das monarquias petroleiras do Golfo Pérsico, lideradas pela Arábia Saudita, e colaboração da Turquia e de outros membros da OTAN.

7. Mas, na Síria, o governo conseguiu resistir, com seus recursos e disposição e com apoio militar e político da Rússia, inclusive no Conselho de Segurança da ONU.


Ucrânia

8. O êxito, até o momento, dessa resistência, levou a potência hegemônica a retornar a ataques mais incisivos contra a ex-superpotência, que busca reconstruir-se. Daí, o recente golpe de Estado na Ucrânia.

9. Ademais, Putin fortaleceu os laços econômicos e políticos da Rússia com a China e países da Ásia Central, frustrando a estratégia anglo-americana de manter divididas e vulneráveis as potências capazes de alguma resistência ao seu projeto de governo mundial absoluto.

10. Claro que os EUA nunca deixaram de reforçar o cerco à Rússia, desde a desmontagem da União Soviética, instalando bases de mísseis em ex-aliados de Moscou, com destaque para a Polônia. Teleguiaram a “revolução laranja” na Ucrânia, em 2004, mais um marco no enfraquecimento desse país de consideráveis dimensões e recursos naturais e população em grande parte russa.

11. Ao verem contida a intervenção na Síria – e presenciarem o Irã muito pouco abalado pelas sanções e incessantes hostilizações –, os EUA trataram de atingir o flanco da própria Rússia.

12. Instaram a União Europeia (UE), sua virtual satélite, a fazer ingressar nela a Ucrânia, visando a pô-la na OTAN, colocando bases militares contra a Rússia virtualmente dentro desta.

13. Entretanto, o presidente da Ucrânia, Yanukovych, constitucionalmente eleito, não concordou em aderir à UE sem discutir as draconianas condições impostas: adotar as medidas econômicas do figurino do FMI; cortar em metade o valor das pensões, suprimir benefícios sociais, demitir funcionários, privatizar mais patrimônio público em favor de plutocratas; tudo para pagar dívidas com bancos ocidentais.

14. Essas são as medidas às quais estão amarrados os pífios empréstimos que UE e EUA acabam de conceder após o golpe, desencadeado a partir de conversa telefônica entre a Subsecretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland, e seu Embaixador na Ucrânia.

15. Utilizaram-se as redes sociais e outros meios de arrebanhar massas descontentes e as levaram à praça Maidan, ignorando que suas lastimáveis condições de vida vão piorar muito após o golpe.

16. A polícia foi acusada de autora dos disparos feitos por gangues neonazistas e outras extremistas, como foi constatado pela chefe das Relações Exteriores da União Europeia e pelo ministro do Exterior da Estônia, conforme conversação telefônica entre ambos, cuja autenticidade foi confirmada pelo ministro: http://rt.com/news/ashton-maidan-snipers-estonia-946/.

17. Isso é evidentemente omitido pela grande mídia, que só publica o que interessa aos governos dos EUA, aliados e satélites, todos subordinados à alta finança e ao big business.

18. Ninguém deveria desconhecer que ela mente, 24 horas por dia, e ainda mais desde a destruição, por dentro, das Torres Gêmeas em Nova York, golpe a partir do qual os EUA institucionalizaram mais instrumentos totalitários de repressão.

19. Mas engana muita gente, mesmo após ter sido desmascarada inúmeras vezes, como quando se comprovou ter o Secretário de Estado de Bush, Colin Power, mentido descaradamente sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque, negada pelo próprio observador das Nações Unidas.

20. É ao big business que agrada o golpe na Ucrânia, após já vir lucrando, antes dele, em negócios com os oligarcas corruptos atraídos para a órbita da oligarquia financeira, principalmente britânica.

21. De fato, anunciam-se novos acordos com as petroleiras anglo-americanas (Chevron p.ex.) para extrair xisto, pelo processo altamente poluente de fracking, bem como a cessão de terras ao agronegócio norte-americano, Monsanto à frente, com intenso uso dos transgênicos e agrotóxicos letais, nas grandes extensões férteis da Ucrânia.

22. O destino dos ucranianos, se confirmado o ingresso na UE, não diferirá do que assola a Grécia, e se abaterá também sobre os russos e outras nacionalidades que vivem em territórios cedidos à Ucrânia Kruschev na década de 1950.

23. Putin está agindo com extrema cautela, tendo-se limitado a apoiar o parlamento da Crimeia em seu desejo de unir-se à Rússia, reforçando efetivos militares na península e no mar.

24. A China manifestou-se solidária à Rússia, inclusive por estar investindo na Ucrânia, como faz em todo lugar suscetível de exportar alimentos e outras matérias-primas.

25. A renda por habitante da Ucrânia equivale a 1/3 da russa, que não é alta, e a Rússia já acolheu três milhões de ucranianos em seu território. O agravamento das condições sociais levará a maior êxodo para a Europa Ocidental, que já tem enorme desemprego.


Brasil

26. O processo aqui em curso tem semelhanças com o da Ucrânia: insatisfação com as condições de vida e com a corrupção; ignorância das causas desses males.

27. Na nova ágora da internet e redes sociais, circulam versões absurdas como a de que o governo petista tem por objetivo implantar o comunismo, de novo e de novo.

28. Na realidade, esse governo, como seus predecessores, depende do big business transnacional, cujo domínio intensifica os problemas do país: concentração, desnacionalização e desindustrialização da economia; dependência tecnológica.

29. Difundiu-se muito no Brasil vídeo em que uma jovem ucraniana defende liberdade e democracia no errado contexto das massas iludidas na Ucrânia pelos mobilizadores do golpe. Na realidade, uma peça produzida por empresa de marketing político, sob os auspícios da agência norte-americana “National Endowment for Democracy”.

30. Este e outros braços do império acionaram as ONGs a seu serviço, a par dos nazistas, conforme a tradição da CIA, desde o final da 2ª Guerra Mundial. O que se vê na Ucrânia são homicídios, vandalismo e torturas, reiterados agora com tiros sobre manifestantes pró-Rússia. Existe um paralelo com os Black Blocs brazucas?...

31. O objetivo da oligarquia financeira anglo-americana no Brasil, até para prosseguir apropriando-se de seus recursos de toda ordem, é intensificar a desnacionalização e demais instrumentos para enfraquecê-lo.

32. Os meios de controle da informação – inclusive espionagem eletrônica, hacking – combinam-se com a corrupção de todo o sistema institucional. A presidente é acuada para aumentar o ritmo das concessões.

33. Estão presentes as consequências das falhas estruturais da economia brasileira, que venho, de há muito, denunciando, as quais poderão se manifestar de forma aguda após julho, apesar de haver eleições em outubro.

34. A crise brasileira tem face interna – física e financeira –, como o serviço da dívida: R$ 900 bilhões para 2014; e face externa: déficit nas transações correntes com o exterior acumulando US$ 188,1 bilhões em três anos (US$ 81,4 bilhões só em 2013).

35. Além disso, seus efeitos econômicos e sociais podem ser agravados pelas repercussões do colapso financeiro no Hemisfério Norte, próximo de ressurgir.

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