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segunda-feira, 31 de março de 2014

O melhor cômico da atualidade

Sem duvida em termos de programa de humor o mestre Olavão Upa-upa é insuperável. Certa vez afirmou que que os padres pedófilos foram resultado de uma trama montada pelos homossexuais, na qual gays foram infiltrados pelo "movimento gay" nos seminários nas décadas de 1950 e 1960, para depois de ordenados padres abusarem de crianças e com isso desmoralizar a Igreja Católica.

Já detratou Marx, Lenin (obviedades), mas também renegou  Kant, Einstein, Newton, Marcuse e todos!... 

Num momento de rara beleza mistifória, desanca o Bispo Macedo da IURD (até com razão). É muito divertido.



O vídeo sobre a Pepsi é outro clássico de Olavão. Sempre desconfiei que a Coca-Cola fosse comunista, com aquele rótulo vermelhão. Mas então o Upa mostrou que eu estava enganado. É a Pepsi que é petralha gayzista feminazi e abortista.

O mundo de Emilio (Garrastazu Medici)




por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo






Você pode se perguntar: por que algumas pessoas evocam, saudosas, a ditadura militar?... É como se aqueles tempos, para elas, fossem dourados – sem violência nas ruas, sem crime, sem corrupção.

A resposta é simples.

O mundo que chegava aos brasileiros pela mídia – e o papel dominante da Globo deve ser destacado – era de mentira. As coisas ruins não eram noticiadas. E então as pessoas menos politizadas tinham uma falsa impressão de paraíso na terra, quando era, na verdade, o inverso.

Nos papeis de Geisel, reunidos num livro, você encontra Roberto Marinho se declarando “o mais fiel aliado dos generais” para pedir mais e novos favores. Ser aliado era: produzir um noticiário que era uma lavagem cerebral. Pela Globo, tudo era uma beleza no Brasil. No resto da mídia, submetida a censura e com donos favoráveis à ditadura, não era muito diferente.

Editar é escolher o que você vai mostrar ao público ou não, e assim a mídia construiu um falso Brasil sob os generais.

Com a volta da democracia, o cenário mudou. E ninguém mais que a Globo. Quando Brizola governou o Rio, o foco era inteiramente nas más notícias, reais ou fabricadas. Este padrão permanece até hoje.

Se as companhias de mídia apoiam um governo, os problemas são deixados de lado. A compra de votos no Congresso para permitir um segundo mandato a FHC jamais foi coberta devidamente, por exemplo.

No extremo oposto, o Mensalão foi o que se viu: uma orgia.

Na ditadura, não havia o contraponto da internet, o que dava à mídia corporativa o monopólio da informação que chegava ao público. E essa informação era viciada.

De certa forma, os nostálgicos do regime militar são vítimas. Foram massacrados por mentiras que, em sua ingenuidade, em seu avassalador analfabetismo político, tomaram por verdades. Você só entende a mente tumultuada delas se entender a manipulação a que a mídia, Globo à frente, as submeteu a cada dia, a cada hora, a cada minuto.

domingo, 30 de março de 2014

A história de Pasadena que a mídia não contou (3)





10 DETALHES QUE SERIA BOM PONDERAR…


pescado no Conversa Afiada do Paulo Henrique Amorim 
(principalmente por estar mais bem detalhado do que em outros sítios)


1 – A Petrobras pagou pela refinaria de Pasadena um preço bem menor se comparado com outros negócios fechados também em 2006;

2 – A refinaria custou, ao todo, US$ 486 milhões e não US$ 1,18 bilhão como afirmam. O preço final equivale a US$ 4.860 por capacidade de barril processado por dia. A média do preço de compra e venda de refinaria naquele ano nos EUA foi de US$ 9.734 por barril. Pasadena custou, portanto, menos da metade do valor pago por outras refinarias.

3 – A decisão de comprar a refinaria atendia ao planejamento estratégico da companhia, definido ainda no governo Fernando Henrique, que previa investir em refino no exterior para lucrar com a venda de derivados de petróleo sobretudo no mercado americano.

4 – A proposta foi aprovada pelo Conselho de Administração porque era vantajosa para a companhia e atendia ao planejamento estratégico. Uma instituição financeira contratada apenas para avaliar o negócio recomendou a compra. Empresários que participavam do Conselho e não pertenciam ao governo foram favoráveis à compra porque entenderam que o negócio era bom e o preço, justo;

5 – A cláusula de ‘put option’ não é motivo para polêmica alguma. A opção de a Astra Oil vender sua parte à Petrobras só existiu porque a estatal brasileira tinha direito à palavra final sobre os rumos e os investimentos futuros na refinaria. Se a Astra não estivesse de acordo, teria a opção de vender e a Petrobras, que como já se viu tinha o interesse em ficar à frente do negócio, teria a opção de comprar.

6 – O mesmo vale para a cláusula Marlim: a Petrobras levaria a Pasadena 70 mil barris/dia produzidos no campo de Marlim, porém só tinha comprado 50% da refinaria, ou seja, uma cota de refino de 50 mil barris/dia. Para processar os 20 mil barris/dia excedentes, a Petrobras pagaria 6,9% de rentabilidade para “alugar” parte da capacidade que pertencia aos belgas.

7 – A refinaria está operando e dando lucro para a Petrobras;

8 – Somente depois de 2006, quando se descobriu o Pré-Sal e a demanda no mercado brasileiro aumentou, o Conselho de Administração da Petrobras mudou o planejamento estratégico. O foco passou a ser a exploração do Pré-Sal e a construção de refinarias no Brasil.

9 – A crise financeira mundial, a partir de 2008, esfriou o mercado de derivados de petróleo nos Estados Unidos e, por tabela, o preço das refinarias instaladas naquele país.

10 – A decisão de vender a refinaria de Pasadena faz parte do plano de desinvestimento, anunciado pela companhia em 2011, para concentrar investimentos na exploração do pré-sal e nas novas refinarias no Brasil. Mas a empresa não pretende vender no período de baixa. No último ano, no entanto, o mercado norte-americano já dá sinais de novo aquecimento por refinaria com o perfil de Pasadena.



1) POR QUE COMPRAR UMA REFINARIA NOS EUA EM 2006?

A decisão de investir em refino fora do Brasil estava alinhada ao planejamento estratégico da companhia, definido ainda no governo Fernando Henrique, e é anterior a dois fatores que mudaram o cenário após 2006: a descoberta do Pré-Sal e a crise financeira mundial de 2008.

Desde 1998, o planejamento estratégico da Petrobras já previa expandir sua capacidade de refino adquirindo refinaria no exterior. Na época, o consumo de derivados no Brasil estava estagnado e a companhia decidiu investir em refino fora do país, facilitando a exportação para mercados mais aquecidos.


Conselho dá aval para busca por refinaria

Em 2004, o Conselho de Administração aprovou a identificação de oportunidades de processamento no exterior. O cenário era de margens de refino positivas, demanda crescente e excedente de petróleo pesado. Era o boom da ‘Época de Ouro’ do refino de derivados nos Estados Unidos.

Como estava ‘sobrando’ (excesso de oferta) óleo pesado no mundo – como o brasileiro, o venezuelano e o mexicano – e seguia crescente a demanda por derivados leves, sobretudo nos Estados Unidos, a Petrobras seguiu a mesma estratégia de outros grandes produtores globais de óleo pesado à época: pagar mais barato por uma refinaria de óleo leve nos Estados Unidos e adaptá-la para processar óleo pesado.


2) POR QUE PASADENA ERA UM BOM NEGÓCIO?

Naquele cenário pré-2006, a refinaria de Pasadena era uma oportunidade para bom investimento por duas razões:

1º) o preço, que estava abaixo da média para refinarias do mesmo padrão;

2º) a localização, em Houston, no Texas, era estratégica: além de facilitar a exportação dos derivados para o mercado norte-americano, é próxima ao Golfo do México, região que passou a ser foco da Petrobras para exploração e produção.


Compra é aprovada pelo Conselho em 2006

A compra foi aprovada pelo Conselho de Administração da Petrobras porque atendia ao planejamento da companhia e a proposta era vantajosa, segundo estudo contratado para avaliar a viabilidade do negócio.

Eis o que membros do Conselho à época afirmam sobre a operação:

Cláudio Haddad, presidente do Insper e acionista da Ambev, afirma: “Havia a opinião do Citibank dizendo que o preço era condizente e a operação se justificava estrategicamente”.

Fábio Barbosa, presidente da Abril e ex-presidente da Febraban, diz: “A proposta de compra de Pasadena submetida ao Conselho em fevereiro de 2006, da qual eu fazia parte, estava inteiramente alinhada com o plano estratégico vigente para a empresa, e o valor da operação estava dentro dos parâmetros do mercado, conforme atestou então um grande banco americano, contratado para esse fim. A operação foi aprovada naquela reunião nos termos do relatório executivo apresentado.”

Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Grupo Gerdau, diz: o negócio foi decidido com base em “avaliações técnicas de consultorias com reconhecida experiência internacional, cujos pareceres apontavam para a validade e a oportunidade do negócio.”


3) O PREÇO DE PASADENA FOI CARO OU BARATO?

O crescimento da demanda de derivados nos EUA (especialmente de 2004 a 2007) levaram a um aumento médio e progressivo no preço das refinarias. Mesmo assim, o preço pago por Pasadena foi bem inferior à média das transações em 2006.

A referência para saber se o preço de uma refinaria é “barato ou caro” é o custo em dólar por barril processado por dia. Exemplo: uma refinaria que processa 100 mil barris por dia e custa US$ 500 milhões de dólares tem um índice de US$/bbl 5.000,00. É assim que se valora e se compara aquisições de refinarias que têm características similares de produção.

Em 2006, a Petrobras pagou por 50% da refinaria de Pasadena US$ 3.800 por barril de capacidade de processamento/dia.

O valor médio das aquisições em 2006 foi de US$ 9.734 por barril.



4) QUANTO CUSTOU, DE FATO, A REFINARIA DE PASADENA?

Foi noticiado que a refinaria de Pasadena teria custado US$ 1,18 bilhão de dólares para a Petrobras. Na verdade, a refinaria custou cerca de 40% desse valor. Vejamos:

US$ 190 milhões, em 2006, para a compra de 50% da refinaria, que tem capacidade para refinar 100 mil barris de petróleo por dia. Portanto, a Petrobras adquiriu a capacidade de refinar 50 mil barris/dia.

US$ 296 milhões, em 2009, para a compra dos 50% restantes que pertencia à Astra, da Bélgica, valor estipulado pela arbitragem internacional.

Portanto, a Petrobras pagou US$ 486 milhões à Astra para comprar 100% da refinaria. Nada mais. Este é o preço real do negócio. Um índice de 4.860 dólares por barril de capacidadede processamento/dia.

Ao fechar o negócio, em 2006, a Petrobras também comprou por US$ 170 milhões metade do estoque de petróleo que a refinaria possuía. O óleo, no entanto, é matéria-prima, foi processado e vendido como derivado, gerando receita e lucro para a companhia.

Ao comprar os 50% restantes da refinaria, a Petrobras também adquiriu novo estoque de petróleo, que pertencia à Astra, também no valor de US$ 170 milhões. Novamente, o óleo foi processado e vendido.

Portanto, são US$ 340 milhões que foram gastos para comprar matéria-prima. Não tem relação com o investimento em si na refinaria.

A Petrobras pagou também US$ 156 milhões em garantias bancárias ao BNP. É importante que fique claro que tais garantias não se referem à compra da refinaria, mas sim um recurso necessário para sua atividade operacional regular. Arcar com garantias bancárias faz parte da operação de qualquer refinaria. Não é custo para compra nem investimento. Não faz parte do preço.

A Petrobras só pagou todo o valor das garantias bancárias de uma só vez, em 2012, porque os contratos estavam em nome da Astra e, durante a fase de litígio, a estatal não poderia pagar diretamente ao BNP. Concluído o acordo, acertou o pagamento devido.

As despesas geradas pelo litígio com a Astra somaram US$ 5 milhões em honorários de advogados e US$ 150 milhões em juros. A disputa judicial, no entanto, como afirmamos, foi uma decisão para garantir que a Petrobras pudesse investir na ampliação da capacidade de refino e ser a única dona da refinaria, pagando o preço que julgava o correto e não o valor pedido pela Astra.

Por último, foram gastos cerca de US$ 44 milhões nos ajustes finais para o rompimento da sociedade.




5) O QUE PREVIA O CONTRATO? POR QUE A SOCIEDADE NÃO DEU CERTO?

O contrato assinado com a Astra, ao adquirir os 50% de Pasadena por US$ 190 milhões, em 2006, previa a necessidade de investimento para capacitar a refinaria a processar óleo pesado.

O contrato também previa a criação do Comitê de Proprietários, formado um representante de cada sócio, que seria responsável pelas decisões estratégicas para operação e investimentos na refinaria. Esta é uma solução comum quando se trata de empresas com vários sócios e ainda mais comum quando as participações são iguais (caso de Pasadena).

A cláusula de ‘put option’

Caberia ao Comitê de Proprietários a palavra final nas decisões, desde que os dois sócios estivessem de acordo. Em caso de impasse, a Petrobras poderia decidir sozinha.

O acordo, portanto, previa à Petrobras à prerrogativa e decidir as estratégias e os rumos da companhia. Em contrapartida, o contrato previu a cláusula do ‘put option’, que dava o direito à Astra de exigir que a estatal brasileira comprasse sua participação caso não estivesse de acordo com as decisões tomadas pela sócia. Este tipo de cláusula de opção de venda é comum em sociedade entre empresas.

A cláusula Marlim

Pelo acordo assinado em 2006, 70% do óleo processado na refinaria seria brasileiro, procedente do campo Marlim. Ou seja, a Petrobras estava comprando 50% da refinaria, portanto uma capacidade de refinar 50 mil barris/dia, porém o óleo de Marlim demandaria uma capacidade de refino de 70 mil barris/dia.

Na prática, a Petrobras excederia sua cota em 20 mil barris/dia e teria de usar parte da cota da Astra. Seria preciso pagar uma espécie de “aluguel” à empresa belga. Para isso, o contrato previu a chamada cláusula Marlim: a garantia de remuneração de 6,9% à Astra pelos 20 mil barris/dia que excediam à capacidade comprada pela Petrobras inicialmente.


Cláusula sem efeito

Mas essa garantia só teria valor e o pagamento seria feito se o investimento na reforma da refinaria para processamento de petróleo pesado fosse realizado em conjunto pelos sócios. Como isso não aconteceu, a cláusula não teve qualquer validade, como ratificou a Justiça americana ao final do processo litigioso.


Início do litígio – Astra se recusa a ampliar a capacidade de refinaria

Estudos de viabilidade econômica mostraram, no entanto, que a refinaria seria mais rentável no longo prazo se sua capacidade de refino fosse expandida para 200 mil barris/dia.

A Petrobras defendeu o duplo investimento: adaptação ao óleo pesado e o aumento da capacidade de processamento. A Astra se negou a investir e abandonou a empresa. Começa aí o litígio.


Recursos à arbitragem, que estabelece valor pelos 50% da Astra

A Petrobras recorreu primeiramente à Câmara de Arbitragem, em junho de 2008, e posteriormente à Justiça dos Estados Unidos porque a Astra se negou a fazer o investimento inicialmente previsto em contrato, isto é, a adaptação para processamento de óleo pesado e também de ampliar a capacidade de refino.

A Astra, por sua vez, como não concordou com a decisão da Petrobras de ampliar os investimentos, recorreu diretamente à Justiça para fazer valer a cláusula de ‘opção de venda’.

O trâmite foi longo, mas ao fim do processo judicial chegou-se ao montante de US$ 296 milhões pelos 50% restantes da refinaria. A Petrobras também comprou da Astra, por US$ 170 milhões sua parte nos estoques de petróleo.


6 – A CARTA DE INTENÇÕES PARA ENCERRAR A DISPUTA

Antes da decisão final da Justiça, no entanto, a Diretoria Internacional da Petrobras preparou uma ‘carta de intenções’, elaborada por Nestor Cerveró, para tentar antecipar um acordo amigável.

O documento também previa que qualquer proposta só teria valor na mesa de negociação mediante aprovação da Diretoria Executiva e do Conselho de Administração da Petrobras. Só depois deste aval é que poderia ser entendida como uma proposta oficial da Petrobras. A carta não foi analisada pelo Conselho e, portanto, nunca teve valor de contrato – como a própria Justiça americana ratificou ao final do processo.


7 – A NOMEAÇÃO DO ‘PRIMO’ DE GABRIELLI PARA A PETROBRAS AMÉRICA

José Orlando é engenheiro, sempre trabalhou na área de exploração e produção e está na Petrobras há quase 40 anos. Ele não teve qualquer envolvimento na compra da refinaria de Pasadena. Passou a comandar a Petrobras América (PAI) em outubro de 2008, portanto mais de dois anos após a Petrobras assumir a operação de Pasadena e já na fase de litígio com a Astra. A gestão de Pasadena sempre esteve aos cuidados das diretorias Internacional e de Abastecimento, ambas sediadas no Rio de Janeiro.

Importante ressaltar também que o foco da Petrobras América, dirigida por ele, é a atuação em E&P no Golfo do México.


8 – CENÁRIO MUDA COM PRÉ-SAL E CRISE FINANCEIRA MUNDIAL

O cenário para investimento em Pasadena é anterior à descoberta do Pré-Sal pela Petrobras. Outro dado que muda a partir de 2006 é o crescimento do consumo de derivados no Brasil.

Diante desses dois cenários, a Petrobras decide em reunião do Conselho de Administração concentrar seus investimentos pós-2006 na exploração e produção do Pré-Sal e na ampliação do parque de refino no Brasil.

Investimento em refino sobe 12 vezes a partir de 2006

Entre 1998 e 2005, a Petrobras investia internamente US$ 200 milhões por ano em refino. De 2006 a 2011, a empresa passou a investir US$ 200 milhões por mês – US$ 2,4 bilhões por ano -, 12 vezes mais que o período anterior.

Crise de 2008 provoca queda brutal das margens do refino nos EUA

Enquanto a demanda crescia internamente, o cenário externo mudou radicalmente após a crise financeira de 2008. O consumo de derivados de petróleo nos Estados Unidos foi fortemente afetado pela crise, encerrando-se o ciclo da ‘Época de Ouro’ do refino no país.

As margens para venda de derivados de petróleo caíram sensivelmente, afetando o preço das refinarias instaladas no país.


9 – O PLANO DE DESINVESTIMENTO E A OFERTA DA VALERO

Em 2011, com a mudança de cenário do mercado externo após a crise financeira de 2008, e diante da necessidade de investir em pesquisa e tecnologia para manter o cronograma de exploração e produção do Pré-Sal, a Petrobras decidiu vender ativos no exterior para fazer US$ 14,5 bilhões em caixa.

É importante prestar atenção em um ponto: por ser uma decisão estratégica e planejada, foram mapeados os ativos fora do Brasil que poderiam ser negociados, porém sem pressa e procurando encontrar o melhor preço possível na venda.

A refinaria de Pasadena é um dos ativos mapeados no exterior, porém não pode ter pressa para fazer qualquer negociação. As condições do mercado em 2012 não favoreceriam um bom preço, uma vez que as margens de rentabilidade do refino nos Estados Unidos caíram sensivelmente após a crise de 2008.

Podemos dizer que em 2012, quando a Valero fez a oferta de US$ 180 milhões, vivíamos um momento de baixa, portanto não atraente para o negócio.

Entretanto, o mercado de derivados de petróleo nos Estados Unidos começou a se aquecer agora em 2013, o que, com certeza, elevará o valor de revenda da refinaria.

A história de Pasadena que a mídia não contou (2)

O deputado vazador


por Luis Nassif, em seu blog

Em 2012, o deputado baiano Antônio Imbassahy – estreitamente ligado a José Serra - foi autor de quase vinte requerimentos de pedidos de informações à Petrobras.

Recebeu informações inéditas sobre as refinarias Pasadena, Okinawa, Abreu de Lima e SBM Offshore, contratos para encomendas de navios e plataformas pelo estaleiro Atlântico Sul, e também sobre reformas de refinarias, como a Repar, do Paraná.

Os documentos foram preservados, aguardando o período eleitoral.Foram justamente esses documentos – secretos – que serviram de base para as reportagens dos últimos dias que deram pretexto para a criação da CPI.

Informações reservadas, fornecidas pela Petrobras ao Congresso, estão sendo utilizadas eleitoralmente, expondo a companhia à execração pública.

Ontem, a Folha publicou a matéria “Documento sobre Pasadena enviado ao Congresso foi violado” (clique aqui) em que dizia que documento reservado encaminhado em dezembro de 2012 pela Petrobras – com informações sobre a compra da refinaria Pasadena – teria chegado violado ao seu destino.

A denúncia partiu do próprio deputado Imbassahy em 18 de dezembro daquele ano. Ontem – segundo o jornal – Imbassahy foi procurado, confirmou o episódio “mas não quis dar detalhes”.

sexta-feira, 28 de março de 2014

A escolha de Kiev



por Mauro Santayana (o queridinho dos índios aqui), em seu blog


O Presidente Obama afirmou, em entrevista, para a imprensa holandesa, que Kiev “não precisa escolher entre leste e oeste”, e que é importante que o povo ucraniano tenha boas relações com a Rússia, os EUA, e a Europa.

Os ucranianos deveriam agradecer penhoradamente esse conselho, e lembrar que era exatamente isso que estavam fazendo antes que o Ocidente se metesse no país. Kiev poderia ter sobrevivido, por muito tempo, com seu território intacto, se tivesse continuado seu movimento pendular tradicional, inclinando-se ora para o Ocidente, ora para a Rússia, buscando obter vantagens dos dois lados.

Ao dar ouvidos à OTAN, esticando a corda ao máximo, a ponto derrubar o governo, os neonazistas que assumiram o poder obrigaram a Ucrânia a queimar seus navios, sem olhar para trás. Com isso, Kiev perdeu a Criméia, o mercado russo para seus produtos, o dinheiro prometido por Putin, e muito mais.

Depois de botar fogo na fogueira, o Ocidente - como se pode ver pelas declarações de Mr. Obama, está, apesar da retórica agressiva somada a “sanções” praticamente inócuas, tentando salvar a cara enquanto pensa em um jeito de se afastar do atoleiro ucraniano.

Kiev deve 170 bilhões de euros, e precisa de 50 milhões de metros cúbicos de gás, todos os dias, para tocar a economia e não congelar. Mesmo que fosse possível convencer a população europeia a pagar a conta, quando ainda sofre com as graves consequências da crise econômica, ainda haveria a questão do gás.

O engenheiro enviado pelos EUA para estudar a situação, disse que seria possível assegurar sete milhões de metros cúbicos de gás, até o fim do ano, desviando parte do gás russo fornecido à Europa, o que representaria apenas 14% da demanda ucraniana, para enfrentar um inexorável inverno, que, neste ano, como em todos os outros, vai chegar. E isso, se a UE pudesse prescindir desse gás, que teria de ser pago pelos ucranianos, ao mesmo preço de mercado cobrado por Moscou dos próprios europeus.

Ao dizer que Kiev não precisa escolher, necessariamente, entre Leste e Oeste, depois de tê-la empurrado contra Putin, os EUA estão lavando, olimpicamente, as suas mãos, como se nada tivessem a ver com a situação. 

O seu recado, e o da OTAN, para os ucranianos, é o mesmo que o Coronel Pedro Tamarindo deu aos seus soldados, ao abandonar a Coluna de Moreira César, na Guerra de Canudos: em tempo de Murici, cada um cuide de si.

O que pode servir de advertência, para aqueles que, a exemplo de parte do exército de famintos, órfãos e refugiados da Primavera Árabe, se deixam seduzir pelas sinuosas sereias do Ocidente. Elas não trazem Liberdade ou Prosperidade. Seu objetivo é destruir e fragmentar, com o seu canto – como fizeram nos Balcãs, no Iraque, no Afeganistão, no Egito e na Líbia, a unidade e a estabilidade – desde que não tenha armas atômicas - de qualquer nação que possa vir a ameaçar seus interesses no futuro.



quinta-feira, 27 de março de 2014

Porque a CPI da PTbrax não vai sair... e se sair vai ser tiro pela culatra



por Helena Stephanowitz, na Rede Brasil Atual


Relacionamento pluripartidário de ex-diretor da Petrobras explica cautela com CPI - Paulo Roberto da Costa tem contatos em vários partidos, que parecem fazer da criação da comissão investigativa mero jogo de cena, temerosos de que apuração lhes bata à porta


Na terça-feira (25), a edição do Jornal Nacional levou ao ar uma reportagem com trechos do relatório confidencial vazado da Polícia Federal sobre a Operação Lava Jato. Mostrou um diálogo telefônico entre o doleiro Alberto Youssef, preso na operação, e um interlocutor cujo nome foi estranhamente omitido pelo telejornal. Ambos conversavam sobre pagamentos, inclusive para um Paulo Roberto. A Polícia Federal suspeita que se trataria de propina para o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa relacionadas a obras na Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco.

Também na terça feira, o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma matéria mais completa, informando que o diálogo ocorreu no dia 21 de outubro de 2013 e o interlocutor era o empresário Márcio Bonilho, sócio proprietário da empresa Sanko-Sider Ltda, fornecedora de tubos de aço, inclusive para a indústria de petróleo.

Márcio Bonilho já foi preso em 2008 em outra operação da PF chamada João de Barro, que investigou deputados e prefeituras que agiam para desviar dinheiro em obras de saneamento e casas populares. Naquela operação foi preso junto Edson José Fernandes Ferreira, que fazia dois trabalhos na época. Trabalhava na Sanko vendendo tubos e como assessor parlamentar no gabinete da liderança do DEM, quando o líder era o senador José Agripino.

Edson Ferreira é filho de João Faustino, figurão do PSDB próximo de José Serra, falecido em janeiro desse ano. Era suplente do senador José Agripino (DEM). Nas eleições de 2002 foi eleito suplente do senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), e chegou a exercer o mandato.

Paulo Roberto da Costa foi engenheiro de carreira na Petrobras, onde ingressou em 1977, subindo de cargos até ocupar altos postos de superintendência, gerência e direção a partir da década de 1990, segundo seu currículo. O jornal Estadão apurou que Costa era bem relacionado no mundo político e circulava com desenvoltura pelo Congresso, onde mantinha contato com vários partidos.

O papel manuscrito apreendido pela Polícia Federal entre os pertences de Costa é uma tabela relacionada com financiamento de campanhas, vaga ao não discriminar candidatos, nem partidos, nem valores. O Jornal Nacional, que teve acesso ao documento, tirou foco de parte das informações para se tornarem inelegíveis pelo telespectador.

Costa também mantinha proximidade com o governador Eduardo Campos (PSB-PE), o que pode ser explicado pela construção da refinaria Abreu e Lima em Pernambuco. Perguntado, o governador confirmou que conhece o ex-diretor da Petrobras e só desconhecia o envolvimento dele em ilícitos.

O amplo leque de relacionamento com parlamentares de diversos partidos explica a cautela e o receio, inclusive da oposição, com uma CPI, apesar do jogo de cena feito diante dos holofotes da mídia.

O governo de Dilma Rousseff tem sofrido um massacre no noticiário sobre o assunto, reagindo pouco e deixando correr, o que só pode ser explicado pela possível convicção de que o aprofundamento no assunto acabará por atingir mais seus oponentes do que seu governo.

terça-feira, 25 de março de 2014

1964 - 50 anos Tudo em nome de um projeto econômico e social de uma potência estrangeira

por Ivan Seixas, na Carta Capital 



Engana-se quem acha que a ditadura foi implantada, em abril de 1964, com uma quartelada ou alguma ação improvisada de militares furiosos. Foi um golpe de Estado anticomunista, antioperário e antinacional, dentro da histeria da Guerra Fria, em uma agressão escancarada para impor um minucioso projeto econômico e social desenvolvido segundo os interesses do capitalismo estrangeiro e seus aliados nacionais.

Para impor esse projeto econômico e social era necessário impor o arrocho salarial e medidas impopulares sem precedentes. E para que isso se efetivasse era necessário o terrorismo de Estado e a cumplicidade e cooperação do empresariado nacional.

A grande maioria dos sindicatos de trabalhadores sofreu intervenção, que passaram a ser dirigidos por gente de confiança da ditadura e dos patrões. Para garantir a repressão, uma extensa rede de repressão se instala desde os primeiros momentos da ditadura sob o comando do temido SNI — Serviço Nacional de Informações, complementada por agentes de repressão particular dentro das fábricas, contratados pelos empresários. Essa cooperação é prevista no organograma do SISNI – Sistema Nacional de Informações, que destaca as “Comunidades Complementares” com os convênios com “Entidades privadas conveniadas”.

Toda essa rede de arapongas a serviço do empresariado foi detectada pela Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, de São Paulo, com base em documentos oficiais do SNI, guardados no Arquivo Nacional. Do mesmo modo, o Arquivo do Estado de São Paulo guarda documentos que mostram que as empresas entregavam as fichas funcionais de seus empregados ao DOPS – Departamento de Ordem Política e Social para que fossem perseguidos pela temida repressão política e essa perseguição servir de desculpas para demitir e colocar o nome do perseguido nas “listas negras” daqueles que não poderiam conseguir emprego mais. Suas famílias passavam fome e os empresários impunham assim o medo da demissão e a submissão dos trabalhadores dentro do projeto implantado em abril de 1964.

A Comissão Estadual descobriu também os livros de entrada e saída no DOPS. Não o livro de entrada de presos, mas o de visitantes do departamento. Sem nenhuma dúvida, o visitante mais constante era um funcionário da FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Geraldo Resende de Mattos, homem de confiança do chefe da entidade patronal. Suas visitas nem sempre têm registrado o horário de saída. Numa dessas vezes, a entrada foi pouco antes das seis da tarde e sua saída se dá no dia seguinte quase sete horas da manhã. Óbvio que o funcionário da FIESP ia lá organizar a repressão ao movimento sindical já amordaçado, reprimido e duramente perseguido. Mais uma vez o projeto econômico e social implantado em 1964 era garantido pela repressão política da ditadura sem nenhum disfarce, bem longe da civilidade ou legalidade.

Outro que visitava muito aquele órgão de repressão, tortura e extermínio e opositores à ditadura militar era Claris Halliwell, graduado membro do consulado geral dos EUA, que entrava e saía com muita frequência e também não tinha horário de saída registrado ou só saía no dia seguinte. Em geral, sua presença lá coincidia com os dias em que aconteciam terríveis sessões de tortura a membros da resistência ao estado de terror imperante. Sua entrada acontecia junto com conhecidos torturadores do DOI-CODI de São Paulo como o tenebroso Capitão Ênio Pimentel Silveira, notório torturador e assassino de presos políticos. A entrada dos dois indica que participavam das sessões de torturas, como é o caso do dirigente do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), Devanir José de Carvalho, Comandante Henrique, barbarizado por quase três dias seguidos e assassinado ao fim dessa jornada.

Torturas, assassinatos e desaparecimentos de opositores militantes de organizações revolucionárias de luta armada aconteciam no mesmo lugar e com a mesma atenção que a repressão ao movimento sindical e de trabalhadores em geral. A ligação que há entre Mister Halliwell e Geraldo Resende de Mattos é o projeto econômico e social implantado em 1964, com orientação, apoio e acompanhamento do governo americano ao Estado usurpado pelos golpistas civis e militares, que se perpetuaram por longos 21 anos seguidos no poder. Causaram danos em, pelo menos, três gerações de brasileiros e estão impunes até hoje.

Nesse momento em que se marcam os cinquenta anos do assalto ao poder por gente que não tinha compromisso com a democracia e menos ainda com o País, devemos refletir o que se pode fazer para o Brasil continuar e aperfeiçoar suas instituições. Cometeram crimes de lesa-humanidade e também crimes de lesa-pátria, pois causaram danos ao povo trabalhador, aos jovens, à cultura nacional, à economia nacional e às instituições nacionais. E continuam impunes. As mortes são imperdoáveis, mas o que se pode dizer da fome causada aos trabalhadores colocados nas chamadas “listas negras”? Não eram “apenas” os trabalhadores, mas todos os componentes de suas famílias. Danos morais, políticos e econômicos em mulheres, crianças e idosos. Não há como perdoar. Tudo cometido em nome de um maldito projeto econômico e social de uma potência estrangeira.

domingo, 23 de março de 2014

Não penso, logo relincho!...





por Kiko Nogueira, no Tudo em Cima




O anticomunismo está na moda, como na Guerra Fria. Com uma novidade: nunca tantos malucos foram tão barulhentos, ao menos no Facebook e em marchas. Não é preciso muito: basicamente, você só tem de ser relativamente ignorante e repetir feito um papagaio alguma poucas palavras e expressões como “petralha ladrão”, “lulopetista”, “Miami é que é bom”, “isso aqui não tem jeito”. Esse é um bom começo.
 
Mas a verdade é que os socialistas estão batendo às nossas portas, ameaçando as nossas famílias e, se você quiser fazer sucesso numa festa de gente burra e sem noção da realidade, eis alguns conselhos importantes para se tornar um novo anticomunista.
 
1. Insista que o marxismo está desacreditado, desatualizado e totalmente morto e enterrado. Em seguida, faça uma carreira lucrativa batendo nesse cavalo morto pelo resto da sua vida.
 
2. Comunismo ou marxismo é o que você quiser que seja. Sinta-se livre para rotular países, movimentos e regimes como “comunistas”, independentemente de coisas como ideologia, relações diplomáticas, política econômica etc.
 
3. Se houver um conflito envolvendo comunistas, todas as mortes devem ser culpa do comunismo. Tenha cuidado ao aplicar isto à Segunda Guerra Mundial. Fascistas que lutaram contra os soviéticos tudo bem, mas tente não elogiar abertamente a Alemanha nazista. Deixe isso para conversas privadas.
 
4. Cite constantemente George Orwell. Fale da “Revolução dos Bichos” ou de “1984”. Diga que Lula é o Grande Irmão.

5. Cite Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constantino, Olavo de Carvalho. Cite Nelson Rodrigues, que você nunca leu e não entende muito bem, mas isso não vem ao caso.
 
6. Mencione quantidades maciças de “vítimas do socialismo” sem se importar com demografia ou consistência. 3 milhões de pessoas mortas de fome? 7 milhões? 10 milhões? 100 milhões no total? Você não precisa se preocupar com ninguém verificando se é verdade, o que é bom já que você não tem a menor ideia.
 
7. Diga que o PTismo, o socialismo, o marxismo ou o PSOLismo são um tipo de fé religiosa, messiânica, ou qualquer outra besteira que possa inventar. Quando as pessoas disserem que é possível traçar semelhanças entre qualquer ideologia política e uma religião, ignore-as.
 
8. Duas palavras: natureza humana. O que é a natureza humana? Para seus propósitos, a natureza humana é uma maneira rápida de explicar por que as idéias políticas de que você não gosta estão erradas.
 
9. Use palavras como “liberdade” e “democracia” constantemente. Não aceite qualquer desafio para definir esses termos.

10. Você não quer um golpe, você quer uma intervenção militar, o que está garantido na Constituição. Não está!...  mas repita essa frase à exaustão assim mesmo

11. Diga “Vai pra Cuba, vagabundo” a qualquer pessoa que discordar de você sobre qualquer assunto. Essa é pra quando acabar seu estoque de argumentos.
 
12. Esquerdistas podem ser usados a favor ou contra o que for mais adequado no momento. Se você estiver numa turma mais conservadora, os esquerdistas são gayzistas. Se você estiver no meio de gente mais descolada, os esquerdistas são homofóbicos. Essencialmente, os esquerdistas são degenerados e puritanos ao mesmo tempo.
 
13. O Mais Médicos é parte de um plano de infiltração cubana no Brasil.
 
14. Você não precisa sabe o que é bolivarianismo para acusá-lo de ser responsável por tudo o que está errado na América do Sul. O bolivarianismo destruiu a Venezuela e destruirá o Brasil. É uma espécie de saúva.
 
15. O papa é comunista.
 
16. Nova Ordem Mundial. Quando se esgotarem todos os argumentos, diga: “Nova Ordem Mundial”. E saia para não ser obrigado a explicar que se trata de uma teoria conspiratória estúpida..

sábado, 22 de março de 2014

Porque hoje é sábado: Chapeuzinho Vermelho da Coleção Disquinho / década de 1950

Estorinha politicamente incorreta (os heróis são os caçadores dizimadores de fauna) que meus filhos ouviam tanto quando eram pequenos que sei as falas todas de cor... A 2ª parte que é a mais emblemática


Parte 1


Parte 2

sexta-feira, 21 de março de 2014

A história de Pasadena que a mídia não contou



por Miguel do Rosário, em seu O Cafezinho


Já que o assunto do momento é Pasadena, fomos pesquisar a origem da refinaria, e tentar esclarecer algumas confusões.

A nossa mídia, como de praxe, está muito mais interessada em produzir uma crise política do que em esclarecer a sociedade.

A refinaria de Pasadena foi fundada em 1920, pela Crown Central Petroleum, uma das companhias remanescentes do império Rockfeller, cujo grupo Standard Oil havia chegado a controlar 88% do refino de petróleo nos EUA.

Em 1911, a Suprema Corte americana valida uma lei anti-truste defendida pelo governo (Sherman Antitrust Act) e a Standard é dividida em 34 empresas. Uma delas, será a Standard Oil of Indiana, que depois será renomeada para Amoco, a qual, por sua vez, dará origem a Crown Central Petroleum.

Os herdeiros mais conhecidos da Crown, os Rosenberg, decidiram, no início dos anos 2000, vender os ativos da companhia, incluindo a refinaria de Pasadena.

Não foi uma venda fácil. Em 2003, um artigo no Baltimore Sun explicava porque se tratava de um negócio complexo. Construir uma nova refinaria igual àquela custaria mais de US$ 1 bilhão, estimava o autor da matéria, Jay Hancock. Nos livros contábeis da Crown, ela vinha avaliada em US$ 270 milhões, mas operadores do mercado diziam que os Rosenberg teriam sorte se conseguissem US$ 100 milhões por ela.

Ao cabo, a refinaria foi vendida para Astra Holding USA, uma subsidiária da Astra Oil, sediada na California, e que por sua vez é controlada pela belga Transcor Astra Group.

Nunca se soube o preço final da refinaria. A imprensa tem repetido que a Astra adquiriu a refinaria em 2005 por US$ 42 milhões. Mas eu ainda não consegui encontrar esse valor em lugar nenhum. É preciso verificar qual era o estado da refinaria antes da compra pela Astra, e que melhorias, exatamente, foram feitas. O que eu sei é que a refinaria vinha enfrentando, há décadas, uma dura oposição da comunidade local, por causa da poluição emitida, e que a justiça havia tomado decisões, mais ou menos na época da venda, que obrigavam a refinaria a se adaptar às novas exigências ambientais do governo.

Está claro que a Astra, logo após a compra, fez uma série de investimentos na refinaria. Aí entra a primeira grande confusão: compara-se o preço de compra pela Astra em 2005, com o preço pago pela Petrobrás, em 2006. São negócios diferentes. A Astra compra uma refinaria que há anos não era modernizada. No momento da compra, o novo presidente da refinaria, Chuck Dunlap, declara que a Astra investiria US$ 40 milhões nas instalações, preparando-as para processar outros tipo de petróleo e fabricar mais variedades de derivados. “Nós temos grandes planos”, asseverou um animado Dunlap à imprensa local.

Uma refinaria moderna é altamente tecnificada, com poucos funcionários. Seu principal ativo são os equipamentos e a tecnologia usada, mas a localização é fundamental, naturalmente. A refinaria de Pasadena, por exemplo, fica bem no coração do “Houston Ship Channel”, uma espécie de eixo no porto de Houston, aberto para o Golfo do México (onde ficam os principais poços de petróleo em operação nos EUA) e com ligações modais para todo os EUA.

Em 2006, a Petrobrás pagou US$ 360 milhões para entrar no negócio, sendo US$ 190 milhões por 50% das ações e US$ 170 milhões pelos estoques da refinaria. No balanço da Petrobrás de 2006, o valor total para a aquisição da refinaria de Pasadena, incluindo despesas tributárias, ficou estabelecido em US$ 415,8 milhões.

Isso tudo aconteceu no início de 2006.

Ao final do mesmo ano, o negócio foi abalado com a descoberta do pré-sal no Brasil.

Até então a Petrobrás tinha planos de investir na refinaria de Pasadena para adaptá-la ao refino de óleo pesado vindo do Brasil. A companhia planejava abocanhar um pedacinho do mercado de refino dos EUA, de longe o maior do mundo.

Com a descoberta do pré-sal, houve uma revolução nos planos da Petrobrás. Todo o capital da empresa teve de ser imediatamente remanejado para o desenvolvimento de exploração em águas profundas e prospecção nas áreas adjacentes às primeiras descobertas. A refinaria de Pasadena teria que esperar.

Aí veio 2008, e a crise financeira que fez evaporar os créditos no mundo inteiro. A Astra, provavelmente já aborrecida porque a Petrobrás havia deixado Pasadena de lado, e espremida pelo aperto financeiro que asfixiava empresas em todo mundo, decide sair do negócio. E obtém uma vitória judicial espetacular na Corte Americana, obrigando a Petrobrás a pagar US$ 296 milhões pelos 50% da Astra, mais US$ 170 milhões de sua parcela no estoque.

Esses estoques de petróleo e derivados, sempre é bom lembrar, não constituíram prejuízo à Petrobrás, porque foram consumidos e vendidos.

A esse montante foram acrescidos mais US$ 173 milhões, correspondente a garantias bancárias, juros, honorários e despesas processuais.

Com isso, o total a ser pago pela Petrobrás elevou-se a US$ 639 milhões. Como a Petrobrás recorreu, naturalmente, a decisão final saiu apenas em junho de 2012, após acordo extrajudicial. O total, agora acrescido de mais juros e mais custos legais, ficou em US$ 820 milhões.

A refinaria continua lá. É um ativo da Petrobrás. A presidente da Petrobrás relatou a ministros do TCU que teria recebido propostas de venda da refinaria entre US$ 50 e US$ 200 milhões, mas rejeitou as ofertas.

A descoberta sucessiva de novos campos do pré-sal demandam cada vez mais capital da Petrobrás, a qual não pode, por isso, desviar nenhum recurso para investir na refinaria de Pasadena, cuja capacidade de refino permanece em torno de 120 mil barris por dia.

O problema principal da refinaria de Pasadena, portanto, foi a descoberta do pré-sal, conforme a própria Petrobrás respondeu, em fevereiro de 2013.

Eis a resposta da Petrobrás, publicada no blog da companhia.

A aquisição de 50% das ações da Pasadena Refining System Inc. (“PRSI”) – proprietária de refinaria em Pasadena, no Texas (EUA) em 2006, estava alinhada ao Planejamento Estratégico da Petrobras, à época, no que se referia ao incremento da capacidade de refino de petróleo no exterior, contribuindo para o aumento da comercialização de petróleo e derivados produzidos pela Companhia. Vale destacar que a refinaria está estrategicamente localizada no Houston Ship Channel, facilitando o transporte de derivados de petróleo ao mercado consumidor norte-americano.

Todas as aquisições de refinarias no exterior cumpriam com o mesmo objetivo estratégico que determinava a expansão internacional da Petrobras, apoiada nos seguintes pilares: processamento de excedentes de petróleos pesados brasileiros; diversificação dos riscos empresariais e atuação comercial em novos mercados de modo integrado com as atividades da companhia no Brasil e em outros mercados.

É importante esclarecer que a aquisição ocorreu antes da confirmação do potencial dos reservatórios descobertos na camada pré-sal, quando o crescimento da produção de petróleo da Petrobras se dava basicamente por descobertas de petróleos cada vez mais pesados. Portanto, para atender às necessidades da época, era estrategicamente interessante para a Companhia adquirir, no mercado americano, refinarias desenvolvidas para processar óleos leves, as quais apresentam valores de mercado mais baixos, e adaptá-las para processar óleos pesados, exatamente como a Petrobras havia feito com suas refinarias no Brasil.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Agora vai!... Ucrânia (2) - aposentados vão ser tungados em 50%, só pra começar...




por Paul Craig Roberts, no VoltaireNet   (Tradução Marisa Choguill)



De acordo com um relatório no Kommersant-Ucrânia, o Ministério das Finanças dos fantoches de Washington em Kiev, que estão fingindo ser um governo, preparou um plano de austeridade econômica que vai cortar pensões ucranianas de US $160 para US $80 para que os banqueiros ocidentais que emprestaram dinheiro para a Ucrânia possam ser reembolsados às custas dos pobres da Ucrânia. Repete-se o que aconteceu na Grécia.

Antes que qualquer coisa semelhante a estabilidade e legitimidade seja obtida para o governo fantoche, colocado no poder pelo golpe orquestrado por Washington contra o governo legítimo, eleito da Ucrânia, os saqueadores ocidentais já estão a trabalhar. Manifestantes ingênuos que acreditaram na propaganda de que a adesão à UE ofereceria uma vida melhor vão perder metade de sua aposentadoria em abril. Mas isso é só o começo.

Os corruptos meios de comunicação Ocidentais descrevem empréstimos como "ajuda". No entanto, os 11 bilhões de euros que a UE está oferecendo a Kiev não são ajuda. São um empréstimo. Além disso, ele vêm com muitas condições, incluindo a aceitação por Kiev de um plano de austeridade do FMI.

Lembre-se, agora: crédulos ucranianos participaram dos protestos que foram usados para derrubar o governo eleito, porque eles acreditaram que nas mentiras ditas por ONGs financiadas por Washington que, uma vez que aderissem à UE, teriam ruas pavimentadas com ouro. Em vez disso, eles estão recebendo cortes em suas pensões e um plano de austeridade do FMI.

O plano de austeridade vai cortar os serviços sociais, os fundos para a educação, dispensar trabalhadores do governo, desvalorizar a moeda e, assim, aumentar os preços de importação que incluem o gás russo e a eletricidade, e vai expor os recursos ucranianos a aquisição pelas corporações ocidentais.

As terras agrícolas da Ucrânia vão passar para as mãos do agronegócio americano.

Uma parte do plano de Washington e da UE para a Ucrânia, ou aquela parte da Ucrânia que não desertou para a Rússia, foi bem sucedida. O que resta do país vai ser completamente saqueado pelo Ocidente.

A outra parte não funcionou tão bem. Os fantoches ucranianos de Washington perderam o controle dos protestos para os ultra-nacionalistas organizados e armados. Esses grupos, cujas raízes remontam àqueles que lutaram por Hitler na 2ª Guerra Mundial, se engajaram em palavras e atos que fizeram o leste e o sul da Ucrânia clamarem para serem anexados de volta à Rússia à qual pertenciam antes da década de 1950 quando o partido comunista soviético os anexou à Ucrânia.

No momento em que este artigo está sendo escrito, a Crimeia está se separando da Ucrânia. Washington e seus fantoches da OTAN não podem fazer nada mas bufar e ameaçar com sanções. O bobo da Casa Branca tem demonstrado a impotência da "superpotência única dos EUA" emitindo sanções contra pessoas desconhecidas, sejam lá quem forem, responsáveis por retornar a Crimeia à Rússia, à qual pertenceu por cerca de 200 anos antes de, segundo Solzhenitsyn, um bêbado Khrushchev, de etnia ucraniana, transferir províncias russas meridionais e orientais para a Ucrânia. Tendo observado os acontecimentos na Ucrânia Ocidental, essas províncias russas querem voltar para casa, onde elas pertencem, assim como a Ossétia do Sul não quis ter nada a ver com a Geórgia.

Os mamulengos operados a partir de Washington em Kiev não podem fazer nada no caso da Crimeia exceto fanfarronar. Conforme o acordo Russia-Ucrânia, a Rússia pode colocar 25.000 soldados na Crimeia. O lamento da mídia dos EEUU e da UE de uma "invasão russa de 16.000 tropas" é total ignorância ou cumplicidade nas mentiras de Washington. Obviamente, a mídia dos EUA e da UE é corrupta. Só um tolo iria confiar em seus relatórios. Qualquer mídia que acredite nas coisas que Washington afirma, depois que Bush e Dick Cheney mandaram o Secretário de Estado Colin Powell na ONU para vender mentiras do regime sobre "as armas iraquianas de destruição em massa" que os inspetores de armas haviam dito à Casa Branca que não existiam, é claramente uma prostituta comprada e paga.

Nas antigas províncias russas da Ucrânia Oriental, a abordagem discreta de Putin à ameaça estratégica que Washington tem trazido para a Rússia tem dado a Washington uma chance de ficar com um grande complexo industrial que serve a economia russa e os militares. As próprias pessoas no leste da Ucrânia estão nas ruas exigindo a separação do governo não eleito que o golpe de Washington impôs-se em Kiev. Washington, percebendo que perdeu a Crimeia devido à sua incompetência, fez seus fantoches de Kiev nomear oligarcas ucranianos, contra quem os protestos de Maiden foram parcialmente dirigidos, a posições de governo nas cidades de Ucrânia oriental. Esses oligarcas têm suas próprias milícias privadas além da polícia e unidades militares ucranianas que ainda estão funcionando. Os líderes dos protestos russos estão sendo presos e desaparecendo. Washington e seus testas-de-ferro da UE, que proclamam o seu apoio à autodeterminação, são apenas a favor da autodeterminação quando ela pode ser orquestrada a seu favor. Portanto, Washington está ocupado no trabalho de extinguir a autodeterminação no leste da Ucrânia.

Este é um dilema para Putin. Sua abordagem discreta permitiu a Washington tomar a iniciativa no leste da Ucrânia. Os oligarcas Taruta e Kolomoyskiy foram colocados no poder em Donetsk e Dnipropetrovsk e estão conduzindo detenções de russos e cometendo crimes terríveis, mas você nunca vai ouvir isso das presstitutas dos EUA. A estratégia de Washington é prender e lançar ao mar os líderes dos secessionistas, assim não haverá autoridades para solicitar a intervenção de Putin.

Se Putin tiver drones, ele tem a opção de remover os oligarcas Taruta e Kolomoyskiy. Se Putin deixar Washington reter as províncias russas do leste da Ucrânia, ele terá demonstrado uma fraqueza que Washington vai explorar. Washington vai explorar a fraqueza ao ponto de Washington forçar Putin à guerra.

A guerra será nuclear.

Diário de um golpe - Quarta-feira, 18 de março de 1964



por Luiza Villaméa  no sitio revista Brasileiros




O jornal O Globo é “conservador, subsidiado pelos Estados Unidos”. A definição, registrada em verbete da Worldmark Encyclopedia of the Nations, caiu como uma bomba na redação do jornal, no Rio de Janeiro. Uma resposta exigindo retratação à enciclopédia (publicada pela World Press Inc – Harper and Row, de Nova York) foi escrita em tom passional.

“A desinformação dos meios culturais norte-americanos relativamente ao Brasil, auxiliada pela insídia de nossos adversários, fez-se responsável pela maior injúria jamais dirigida contra este jornal”, começava o texto, a ser publicado com destaque, na primeira página do dia seguinte.

“A calúnia vilmente assacada pelos comunistas locais, que pretendem atingir a honorabilidade de O Globo, taxando-o de órgão subsidiado pelos Estados Unidos, encontrou guarida em publicação feita naquele mesmo País!”, afirmava ainda o texto do jornal comandado por Roberto Marinho.

O fantasma do comunismo também aparecia com frequência nas páginas de O Globo quando o assunto era a política brasileira. Aliás, para atacar o presidente João Goulart, a maioria dos jornais seguia a mesma linha. No dia do comício da Central do Brasil, a Folha de S.Paulo, por exemplo, classificou os organizadores da manifestação como “extremistas interessados em subverter a ordem”.

Na véspera da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, o jornal paulista adotou outra linguagem: “Todos os participantes do movimento estarão usando braçadeiras verde-amarelas. E conclamam todos os democratas para que também as usem”. Essa era a postura da maioria da imprensa escrita. Entre os jornais comerciais, apenas a Última Hora, o Diário Carioca e O Semanário apoiavam o governo João Goulart.

Nos Estados Unidos, onde a Worldmark Encyclopedia of the Nations havia publicado que O Globorecebia subsídios americanos, a política brasileira não despertava interesse no grande público. Em contrapartida, a bossa nova fazia o maior sucesso naquele março de 1964, quando foi lançado o álbum Getz/Gilberto.

Diário de um golpe - Terça-feira, 17 de março de 1964

O general Assis Brasil acompanha entrevista de João Goulart.


por Luiza Villaméa  no sitio revista Brasileiros


Chefe do Gabinete Militar de João Goulart, o general Argemiro de Assis Brasil não se abalou em saber que uma grande marcha contra o governo federal estava sendo arquitetada em São Paulo. Repetiu uma frase que incomodava boa parte dos assessores civis do presidente: “Deixa esse pessoal levantar a cabeça porque assim é melhor. Eles botam a cabeça de fora, a gente dá uma paulada e acaba com isso de vez.”

Admirador do teórico anarquista Mikhail Bakunin, que costumava ler em voz alta desde a juventude, o general Assis Brasil tinha assumido a chefia do Gabinete Militar em outubro de 1963, três meses depois de chegar ao generalato. Além de exibir havia pouco tempo as duas estrelas de general de brigada, faltava a Assis Brasil experiência política para o conturbado cenário nacional.

Como coronel, ele havia se destacado durante a Campanha da Legalidade, o movimento civil-militar pela posse de João Goulart, depois da renúncia do presidente Jânio Quadros, em agosto de 1961. Naquela ocasião, Assis Brasil atuou como elemento de ligação entre o III Exército, em Porto Alegre, e o Palácio Piratini, de onde o então governador Leonel Brizola liderava a campanha a favor da posse do vice-presidente.

Quase três anos depois, no comando do Gabinete Civil, o general Assis Brasil assegurava ao presidente que havia montado um imbatível “dispositivo militar”. Ele se referia a um esquema de fidelidade ao presidente, que teria conquistado entre oficiais das três Forças Armadas. O esquema seria capaz de neutralizar os militares que conspiravam para derrubar o governo.

No “dispositivo militar” de Assis Brasil, destacava-se o general Amaury Kruel, comandante do II Exército, em São Paulo, amigo do presidente. Quanto aos conspiradores, Assis Brasil dava pouco crédito. Chamava de “dois velhinhos gagás” os generais Olímpio Mourão Filho e Carlos Luís Guedes, aliados do governador mineiro Magalhães Pinto contra João Goulart. Na opinião de Raul Riff, secretário de imprensa do presidente, Assis Brasil era “um otimista patológico”.

Enquanto o chefe do Gabinete Militar garantia ao presidente o apoio nas Forças Armadas, Jean Manzon, fotógrafo francês radicado no Brasil, produzia um documentário sobre a indústria automobilística do País. O filme começa com uma corrida de carros em Brasília.

Confira a produção do DKW Vemag 1964, por Jean Manzon:




Agora vai!... Ucrânia - deputados invadem TV estatal e expulsam seu diretor



Por Frederico Füllgraf, no blog do Nassif

Kiev, madrugada de quarta-feira,19 de março. Encabeçado por um indivíduo loiro, com rabo de cavalo, um grupo de seis a sete deputados do partido neonazista Svoboda, invade a sala de Olexandr Pantelejmonow, diretor da NTU, a TV Estatal em Kiev.

Primeiro, o loiro agarra Pantelejmonow pela gravata e, aos empurrões e bofetadas e auxiliado por sua entourage, tenta jogar o diretor da estação na cadeira de sua escrivaninha. Pantelejmonow resiste, reergue-se, ao que é esbofeteado e socado novamente na cadeira. Enquanto o loiro esbraveja, um dos deputados agarra uma folha de papel em branco. O loiro de rabo de cavalo agarra uma caneta, enfia-a no rosto do diretor e obriga-o a assinar sua própria demissão.

O “motivo” do atentado: a reprodução pela TV Estatal da Ucrânia do discurso do presidente russo,Vladimir Putin, sobre o referendo e a adesão da Crimeia à Rússia.

Acusado de promover “propaganda russa”, em seguida Pantelejmonow é arrastado para fora de sua própria sala e levado embora, com destino desconhecido.

Em tempo: o loiro com rabo de cavalo, é o deputado nazista Igor Miroschnitschenko, membro da “comissão parlamentar de liberdade de imprensa” do governo provisório golpista, empossado em 10 de março último.

A única organização a emitir nota de protesto até a noite do dia 19 foi a Anistia Internacional. O resto, como disse o príncipe dinamarquês no drama de Schakespeare: “o resto é silêncio” - nenhuma palavra de indignação em Washington, Berlim, Paris ou Londres, guardiãs da “democracia” implantada em Kiev .




quarta-feira, 19 de março de 2014

Aguá batendo na bunda da tucanada, ou não?!?..


por Fernando Brito, no Tijolaço


O Governador Geraldo Alckmin acha que vai fazer as pessoas de bobas.

Está falando do pedido de transposição das águas do Paraíba do Sul como se fosse esta a solução para a crise de abastecimento de São Paulo.

E que isto dependeria de a Presidenta Dilma “autorizar”. E, claro, se ela não “autorizar”, fica com a culpa da seca. Sem meias palavras, isto é uma empulhação.

Primeiro porque, como já expliquei em post anterior, isso só pode ser feito depois de mais estudos e demanda obras demoradas. Não vai trazer uma gota sequer para o Cantareira de hoje, secando e secando.

Segundo, porque o projeto é, de fato, antigo, mas ficou abandonado por anos e só no final do ano passado foi retomado, quando a crise já se desenhava. Mas o que as águas do Paraíba do Sul vão trazer para o Cantareira, pelo próprio projeto da Sabesp é nada diante da perda de água dos reservatórios.

Os 6 mil litros por segundo (iniciais, depois, sabe como é o poder de São Paulo…) seriam captados assim: 1,45 mil litros no reservatório de Jacareí, que seriam destinados ao Cantareira, e 4,5 mil litros por segundos em Guararema, que seriam transferidos, por uma ligação de aproximadamente 10 km, para o Rio Tietê.

A história de que o sistema só será acionado se o Cantareira ficar abaixo de 35% e o Paraíba tiver água em abundância é contraditória: as bacias que alimentam a ambos e mais o Alto Tietê são muito próximas e, portanto, sujeitas a regimes de chuva semelhantes, tanto que as águas do Rio Paraíba do Sul estão baixas para o verão, assim como o Sistema Tietê da Sabesp está ruim das pernas, embora não tão gravemente.

Não se trata de bairrismo carioca – até porque o pessoal do Vale do Paraíba paulista é contra isso – mas de não tomar decisões como essa assim, com a faca no pescoço da seca. Isso é sério e tem repercussões que não podem ser tratadas de forma irresponsável e em cima da perna.

A seca de hoje não será resolvida com uma água para o futuro e, muito menos, com demagogia e politicagem. As captações no Ribeira e no São Lourenço, que levarão quase o dobro de água para São Paulo têm projetos prontos faz anos e só agora licitaram suas obras, que levarão de tr~es a quatro anos.

Espero que os auxiliares da Presidenta Dilma não a tentem levar para essa “furada”, porque ela é muito esperta para cair nessa.

O Alckmin que agora diz que “terá água se a Dilma aprovar” é o mesmo que está mentindo à população sobre a gravidade da crise e que, por razões eleitorais, não adotou as restrições de consumo na data e no volume em que eram necessárias.

E que, como São Paulo tem uma imprensa que, por cumplicidade, não está ao nível da grandeza desta metrópole, só convence a quem não estuda e analisa as questões.

Ontem, o promotor do Meio Ambiente de São Paulo, José Eduardo Ismael Lutti, disse na Fiesp, diante de toda imprensa, que Geraldo Alckmin só não fez o racionamento porque este é um ano eleitoral.

E pediu que o povo se rebelasse.

Saiu nos jornais?

A cumplicidade da imprensa paulista com o PSDB é pior do que qualquer estiagem.



Nota do índios daqui deste toldo

Em 2007 (ano 12º do Tucanistão Paulista), quando da realização do 1º Seminário Brasileiro de APPs Urbanas, que aconteceu na USP, do qual participei, se tratou demoradamente do momento que o abastecimento de água da  Grande São Paulo iria colapsar... alguns visionários cantaram a bola para 2015. Tá aí!...

segunda-feira, 17 de março de 2014

quarta-feira, 12 de março de 2014

Brasil pode ser a Ucrânia amanhã?... em 35 lições



por Adriano Benayin, no Correio da Cidadania


1. O móvel da oligarquia financeira para desencadear guerras em grande escala, bem como conflitos localizados, é ganhar mais poder, subordinando países e regiões ao império e enfraquecendo os que poderiam conter essa expansão.

2. Na 1ª e 2ª Guerras Mundiais, respectivamente França versus Alemanha e Alemanha versus Rússia (União Soviética), as potências anglo-americanas só se engajaram com intensidade no final, para ocupar espaços, estando aqueles contendores desgastados.

3. As duas grandes conflagrações eclodiram após longos períodos de depressão econômica e serviram como manobra de diversão em face das consequências sociais e políticas da depressão.

4. No século XXI, os conflitos armados grandemente destrutivos estão tornando-se mais frequentes após o golpe preparatório: a implosão das Torres Gêmeas, em setembro de 2001.

5. Os principais alvos têm sido países islâmicos, envolvendo a geopolítica da energia. Desde 2001, o Afeganistão está sob agressão. Em 2003, destruição e ocupação do Iraque. Ataques a Sudão, Somália e Iêmen. Em 2011, a brutal agressão e intervenção da OTAN na Líbia. Durante todo o tempo, pressão e hostilização a Síria e Irã.

6. Em 2013, a agressão à Síria foi intensificada com a invasão por mercenários e extremistas, grandemente armados, com participação das monarquias petroleiras do Golfo Pérsico, lideradas pela Arábia Saudita, e colaboração da Turquia e de outros membros da OTAN.

7. Mas, na Síria, o governo conseguiu resistir, com seus recursos e disposição e com apoio militar e político da Rússia, inclusive no Conselho de Segurança da ONU.


Ucrânia

8. O êxito, até o momento, dessa resistência, levou a potência hegemônica a retornar a ataques mais incisivos contra a ex-superpotência, que busca reconstruir-se. Daí, o recente golpe de Estado na Ucrânia.

9. Ademais, Putin fortaleceu os laços econômicos e políticos da Rússia com a China e países da Ásia Central, frustrando a estratégia anglo-americana de manter divididas e vulneráveis as potências capazes de alguma resistência ao seu projeto de governo mundial absoluto.

10. Claro que os EUA nunca deixaram de reforçar o cerco à Rússia, desde a desmontagem da União Soviética, instalando bases de mísseis em ex-aliados de Moscou, com destaque para a Polônia. Teleguiaram a “revolução laranja” na Ucrânia, em 2004, mais um marco no enfraquecimento desse país de consideráveis dimensões e recursos naturais e população em grande parte russa.

11. Ao verem contida a intervenção na Síria – e presenciarem o Irã muito pouco abalado pelas sanções e incessantes hostilizações –, os EUA trataram de atingir o flanco da própria Rússia.

12. Instaram a União Europeia (UE), sua virtual satélite, a fazer ingressar nela a Ucrânia, visando a pô-la na OTAN, colocando bases militares contra a Rússia virtualmente dentro desta.

13. Entretanto, o presidente da Ucrânia, Yanukovych, constitucionalmente eleito, não concordou em aderir à UE sem discutir as draconianas condições impostas: adotar as medidas econômicas do figurino do FMI; cortar em metade o valor das pensões, suprimir benefícios sociais, demitir funcionários, privatizar mais patrimônio público em favor de plutocratas; tudo para pagar dívidas com bancos ocidentais.

14. Essas são as medidas às quais estão amarrados os pífios empréstimos que UE e EUA acabam de conceder após o golpe, desencadeado a partir de conversa telefônica entre a Subsecretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland, e seu Embaixador na Ucrânia.

15. Utilizaram-se as redes sociais e outros meios de arrebanhar massas descontentes e as levaram à praça Maidan, ignorando que suas lastimáveis condições de vida vão piorar muito após o golpe.

16. A polícia foi acusada de autora dos disparos feitos por gangues neonazistas e outras extremistas, como foi constatado pela chefe das Relações Exteriores da União Europeia e pelo ministro do Exterior da Estônia, conforme conversação telefônica entre ambos, cuja autenticidade foi confirmada pelo ministro: http://rt.com/news/ashton-maidan-snipers-estonia-946/.

17. Isso é evidentemente omitido pela grande mídia, que só publica o que interessa aos governos dos EUA, aliados e satélites, todos subordinados à alta finança e ao big business.

18. Ninguém deveria desconhecer que ela mente, 24 horas por dia, e ainda mais desde a destruição, por dentro, das Torres Gêmeas em Nova York, golpe a partir do qual os EUA institucionalizaram mais instrumentos totalitários de repressão.

19. Mas engana muita gente, mesmo após ter sido desmascarada inúmeras vezes, como quando se comprovou ter o Secretário de Estado de Bush, Colin Power, mentido descaradamente sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque, negada pelo próprio observador das Nações Unidas.

20. É ao big business que agrada o golpe na Ucrânia, após já vir lucrando, antes dele, em negócios com os oligarcas corruptos atraídos para a órbita da oligarquia financeira, principalmente britânica.

21. De fato, anunciam-se novos acordos com as petroleiras anglo-americanas (Chevron p.ex.) para extrair xisto, pelo processo altamente poluente de fracking, bem como a cessão de terras ao agronegócio norte-americano, Monsanto à frente, com intenso uso dos transgênicos e agrotóxicos letais, nas grandes extensões férteis da Ucrânia.

22. O destino dos ucranianos, se confirmado o ingresso na UE, não diferirá do que assola a Grécia, e se abaterá também sobre os russos e outras nacionalidades que vivem em territórios cedidos à Ucrânia Kruschev na década de 1950.

23. Putin está agindo com extrema cautela, tendo-se limitado a apoiar o parlamento da Crimeia em seu desejo de unir-se à Rússia, reforçando efetivos militares na península e no mar.

24. A China manifestou-se solidária à Rússia, inclusive por estar investindo na Ucrânia, como faz em todo lugar suscetível de exportar alimentos e outras matérias-primas.

25. A renda por habitante da Ucrânia equivale a 1/3 da russa, que não é alta, e a Rússia já acolheu três milhões de ucranianos em seu território. O agravamento das condições sociais levará a maior êxodo para a Europa Ocidental, que já tem enorme desemprego.


Brasil

26. O processo aqui em curso tem semelhanças com o da Ucrânia: insatisfação com as condições de vida e com a corrupção; ignorância das causas desses males.

27. Na nova ágora da internet e redes sociais, circulam versões absurdas como a de que o governo petista tem por objetivo implantar o comunismo, de novo e de novo.

28. Na realidade, esse governo, como seus predecessores, depende do big business transnacional, cujo domínio intensifica os problemas do país: concentração, desnacionalização e desindustrialização da economia; dependência tecnológica.

29. Difundiu-se muito no Brasil vídeo em que uma jovem ucraniana defende liberdade e democracia no errado contexto das massas iludidas na Ucrânia pelos mobilizadores do golpe. Na realidade, uma peça produzida por empresa de marketing político, sob os auspícios da agência norte-americana “National Endowment for Democracy”.

30. Este e outros braços do império acionaram as ONGs a seu serviço, a par dos nazistas, conforme a tradição da CIA, desde o final da 2ª Guerra Mundial. O que se vê na Ucrânia são homicídios, vandalismo e torturas, reiterados agora com tiros sobre manifestantes pró-Rússia. Existe um paralelo com os Black Blocs brazucas?...

31. O objetivo da oligarquia financeira anglo-americana no Brasil, até para prosseguir apropriando-se de seus recursos de toda ordem, é intensificar a desnacionalização e demais instrumentos para enfraquecê-lo.

32. Os meios de controle da informação – inclusive espionagem eletrônica, hacking – combinam-se com a corrupção de todo o sistema institucional. A presidente é acuada para aumentar o ritmo das concessões.

33. Estão presentes as consequências das falhas estruturais da economia brasileira, que venho, de há muito, denunciando, as quais poderão se manifestar de forma aguda após julho, apesar de haver eleições em outubro.

34. A crise brasileira tem face interna – física e financeira –, como o serviço da dívida: R$ 900 bilhões para 2014; e face externa: déficit nas transações correntes com o exterior acumulando US$ 188,1 bilhões em três anos (US$ 81,4 bilhões só em 2013).

35. Além disso, seus efeitos econômicos e sociais podem ser agravados pelas repercussões do colapso financeiro no Hemisfério Norte, próximo de ressurgir.

Barafunda na Venezuela - é o petróleo estupido!...

excerto do ensaio de Ricardo Alvarez, no Correio da Cidadania

[...]

A elite venezuelana, incrustada na estatal petrolífera durante décadas, resistiu duramente ao processo de controle da estatal PDVSA pelo governo a partir da primeira década deste século, o que provocou acirrada disputa interna. O chavismo ganhou as eleições, mas os burocratas não queriam abandonar o controle da empresa.

Porém, na exata medida das sequentes vitórias da Revolução Bolivariana neste enfrentamento, o governo trouxe para si a responsabilidade de ditar as políticas e diretrizes que guiariam os rumos da petroleira, em especial na distribuição social de seus superávits, sustentando programas sociais e políticas de distribuição de renda. Os anos de 2008 a 2010 registram esta nova condição de estabilidade no funcionamento da PDVSA e o sucesso nas pesquisas e descoberta de novas bacias, como evidencia a tabela.

A conquista da Venezuela do posto de primeira colocada em reservas mundiais de petróleo (a partir de 2010) é um fato que passou ao largo da grande imprensa no Brasil e de boa parte dos brasileiros, mas não escapou aos olhos dos EUA e de sua política externa.

Não se trata de uma informação menor, ao contrário, significa colocar o país no jogo global do petróleo, que envolve grandes corporações, governos dos países centrais (especialmente os EUA e União Européia), o capital financeiro e muitos interesses.

Destaque-se ainda que vários autores e estudiosos do tema admitem que o mundo ultrapassou recentemente o “peak oil”, ou o “pico do petróleo”, que representa aquele ponto no gráfico em que a curva quebra para baixo, ou seja, quando as descobertas de novas jazidas não mais acompanham a demanda internacional impondo, daqui em diante, a condição de eliminação definitiva do petróleo como matriz energética do mundo capitalista em algumas décadas.

É nesta moldura da geografia política mundial que se enquadram os conflitos recentes na Venezuela. Os EUA precisam derrubar o governo e garantir maior proximidade e controle dos estoques de subsolo, ao passo que o chavismo depende diretamente do óleo para a continuidade de suas políticas sociais. Este conflito deve ser seguido de perto por aqueles que acreditam na soberania dos povos sobre seu território e na redução das desigualdades sociais como caminho único para a edificação de um mundo mais justo e igualitário. Os próximos capítulos desta disputa de projetos prometem fortes emoções.