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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Icaro derreteu suas asas com o calor do sol e se esborrachou



Por Pierre Henri Gouyon, no livro Transgênicos para quem?...   


Gostaria de recorrer à mitologia e citar Dédalo − que é, no meu ponto de vista, o exemplo típico do engenheiro de hoje − para ilustrar o mito do Progresso. Minos tomou emprestado um touro de Zeus e não o devolveu. Zeus, para puni-lo, infunde em Pasífae, a esposa de Minos, uma paixão pelo touro. Pasífae quer ser possuída pelo touro. Minos, que é um homem declaradamente muito aberto, concorda e chama seu engenheiro Dédalo. Para resolver isso este fabrica uma vaca de couro e madeira (mais ou menos do jeito que se utiliza hoje nos centros de inseminação artificial) em que Pasífae entra e pode assim copular com o touro.

Dessa união, nasce o Minotauro. Novamente Dédalo é solicitado para solucionar o problema. Dédalo inventa seu famoso labirinto para ali confinar o monstro, mas o Minotauro devora alguns e algumas atenienses a cada ano. É preciso, portanto, livrar-se dele. Encarregam Teseu de matar o Minotauro, mas permanece uma dúvida: como Teseu sairá do labirinto após ter cumprido sua missão?

Ariadne (ou Ariane), a filha de Minos, que está apaixonada por Teseu, pergunta a Dédalo como proceder. Dédalo indica-lhe a técnica do fio. Teseu mata o Minotauro e sai graças ao fio de Ariadne. Em seguida foge com ela mas abandona Ariadne no caminho. Minos, furioso, acha um bode expiatório para toda essa encrenca na pessoa de Dédalo, que ele encerra no labirinto com seu filho Ícaro.

Para escapar, Dédalo, que declaradamente tem fé nas soluções técnicas para resolver os problemas apresentados por suas próprias técnicas, fabrica asas com penas que cola com cera e foge com seu filho voando; mas este se aproxima muito do sol e morre, para desespero de seu pai.

Esta história mostra como, a partir de uma necessidade ilegítima salva pela técnica, o recurso sistemático à solução técnica somente causa novos problemas.

Hoje, em nossa sociedade, coexistem dois tipos de pessoas: os primeiros pensam que o movimento em direção ao progresso é o único remédio contra o tédio e consideram que os problemas serão acertados no caminho, que encontraremos soluções técnicas para os problemas ocasionados por nossas técnicas; os segundos estimam que cometemos muitos erros e que já chegou o tempo de refletir sobre os problemas que corremos o risco de encontrar.

Uma reunião sobre a biodiversidade comporta certamente uma grande maioria de representantes do segundo grupo. Todavia, obteremos um grande benefício ao evocarmos em nossos intercâmbios esta visão do progresso.

[...]

Vamos deixar a desordem de o Progresso invadir completamente nossas sociedades? Vamos aceitar que os interesses econômicos muito poderosos gerem o futuro da biodiversidade?...

[...]

... a biodiversidade continua sendo prioritariamente um problema de ética. Ela levanta problemas de tipo puramente político. Um estudo econômico pode provar que um prisioneiro custa mais caro vivo do que morto. Esse cálculo econômico pode, conseqüentemente, visar demonstrar que a pena de morte é uma coisa boa. Portanto, qualquer que seja o resultado de todo estudo econômico, permaneço profundamente contrário à pena de morte, porque penso que uma sociedade que se dá o direito de eliminar os indivíduos que a compõem é uma sociedade que passa uma imagem ruim dela mesma. Da mesma forma, uma sociedade que se permite destruir todas as espécies que estão em torno dela é uma sociedade...


CONCLUSÃO AQUI DA ALDEIA:

... que destruirá a sí própria, mas ainda não sabe disso.

Essa metáfora ai tem a haver com os transgênicos. Ah, e o livro linkado, do qual foi retirado essa fabula mitológica, é muito bom.

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