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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Erro médico e erro médico!...


por Renata Mielli, em seu blog

Na ultima sexta-feira, 22, o Estadão estampou em uma de suas chamadas de capa a manchete “Médico cubano é afastado por erro”. Na linha final prossegue o jornal “Isole Gomez Molina, do Programa Mais Médicos, é acusado de prescrever dose quatro vezes maior de dipirona a bebê”.

Na notícia, o repórter teve o cuidado de ouvir o depoimento da mãe, que afirmou ter recebido do médico a orientação correta de como ministrar o medicamento – 1 gota por quilo do bebê, portanto 4 gotas. Mas, na receita, o médico prescreveu a quantidade como 40 gotas. A mãe, orientada corretamente, ministrou no filho a dosagem certa. Como a febre não baixara, procurou novamente atendimento médico e levou a receita. A médica que a atendeu pela segunda vez, fez a denúncia à Secretaria de Saúde. O profissional foi levado à sindicância para apuração e afastado por este período. Para ler a notícia completa clique aqui.

Em primeiro lugar, tanto a postura da mãe, quanto a dos órgãos competentes estão corretas. A médica que fez a denúncia também agiu corretamente, mas talvez pelas motivações erradas, as mesmas que geraram o destaque deste fato que ocorreu em Feira de Santana – BA, no Estadão. Qual seja: o preconceito contra os médicos estrangeiros.



Erro médico é erro médico, uns tem consequências maiores outros menores, mas todos precisam ser apurados. O Estado brasileiro precisa aprimorar cada vez mais as condutas e orientações para que estes erros sejam evitados. A questão é quantos erros médicos ocorrem todos os dias no Brasil? E quando eles são notícias em grandes veículos de comunicação?

Geralmente ganham destaque nacional os erros que levam a morte ou a lesões importantes. Se a mídia fosse dar destaque para todos os erros que acontecem em diagnósticos, prescrições e procedimentos – com o mesmo espaço que deu para a notícia em questão – teria que dedicar páginas e páginas para isso.

O que está por trás desta notícia não é o erro em si, mas a tentativa de desqualificar a atuação dos profissionais estrangeiros – particularmente os cubanos – que participam do programa Mais Médicos. Outro objetivo é desqualificar o programa em si, o ministro Alexandre Padilha e o governo como um todo.

A reação das entidades médicas brasileiras, de parte da categoria e de setores conservadores da sociedade ao programa Mais Médicos tem sido virulenta e xenófoba. Nascem do preconceito social, racial e político. Crescem a partir do sentimento corporativista, de reserva de mercado, como se a saúde das pessoas fosse um mercado consumidor a ser disputado. Essas motivações desencadearam uma campanha agressiva e que ignora o interesse público e a carência de milhões de pessoas que não têm atendimento médico adequado. Parte da mídia nacional assumiu e conduziu essa campanha de difamação, com objetivos políticos bem claros, contudo não transparentes.

Esta é a triste notícia que se lê nas entrelinhas da matéria publicada no Estadão: Se o mesmo erro, tivesse sido cometido por um médico brasileiro, talvez e muito provavelmente sua colega nem teria feito a denúncia, a secretaria de Saúde não teria instalado sindicância e o médico continuaria atuando. E, mesmo que a denúncia tivesse sido feita e o médico afastado, ouso afirmar que este fato nunca teria ganhado destaque no jornal de circulação nacional.

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