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terça-feira, 6 de agosto de 2013

Foro de São Paulo - conservadores retrógrados até hoje não sabem do que se trata



por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa

Folha de S. Paulo, o Estado de S. Paulo e O Globo oferecem visões diversas para a reunião do Foro de São Paulo, que ocorreu no último fim de semana na capital paulista. O evento, que acontece a cada dois anos desde 1990, é um seminário internacional que reúne mais de uma centena de partidos, sindicatos, grupos de ativistas e pensadores, além de outras organizações, como movimentos ambientalistas e étnicos. A pauta geral é a construção, na América Latina e no Caribe, de modelos alternativos para as políticas baseadas no credo neoliberal.
O conjunto de entidades que enviam representantes a esse encontro pode ser definido, segundo critérios discutíveis, como genericamente “de esquerda”, num espectro que vai da socialdemocracia até organizações que defendem a “violência revolucionária”, como o grupo guerrilheiro Farc, da Colômbia, que vem sendo discretamente afastado da organização.
Após mais de uma década no poder efetivo em vários países latino-americanos, muitos desses protagonistas estão a merecer uma atenção maior da imprensa, nem que fosse por mera curiosidade histórica. No entanto, o que se observa é que a mídia tradicional ignora ou trata com preconceito esse evento, que muitas vezes define políticas regionais importantes.
No encontro que se encerrou no domingo (4/8), por exemplo, o destaque foi para o presidente da Bolívia, Evo Morales, que centrou seu discurso de 40 minutos no desafio que representa para a maioria dos governos da região a onda dos protestos, que ocorrem principalmente nas capitais brasileiras. Dos três jornais, apenas a Folha destacou essa questão, que já tinha sido abordada pelo ex-presidente brasileiro Lula da Silva na sexta-feira (2).
Mas é na fala de Morales que pode ser apreendida a questão central que instiga os governantes nesta segunda década do século 21: como fazer política na sociedade virtual criada pelas redes sociais digitais.
Ao defender, segundo a Folha de S. Paulo, uma ação pragmática na economia e o combate rigoroso à corrupção, o líder boliviano tocou em dois pontos que representam os maiores desafios dos governantes da região.
Ao mesmo tempo, ele verbalizou uma questão que tem dificultado a compreensão dos movimentos de protesto por parte dos analistas mais acreditados na imprensa: a necessidade de avanços contínuos no processo de desenvolvimento socioeconômico.
Revolução ou modernidade
Com quase quinze anos no poder do continente, as forças políticas que, em graus variados, se opõem ao modelo econômico neoliberal, enfrentam o dilema de consolidar os avanços sociais e econômicos obtidos na maioria dos países nesse período e de assegurar as garantias de bem-estar para as gerações futuras.
Embora haja estudos em quantidade e qualidade suficientes para demonstrar que a intervenção do Estado tem produzido o resgate de grandes parcelas da população historicamente mergulhadas na pobreza, e de haver reduzido as desigualdades sociais e regionais, o risco de retrocesso está presente a cada solavanco da economia global.
Os atos de protesto, que apontam para muitos alvos ao mesmo tempo, apresentam como núcleo mais visível o combate aos privilégios, que nos países latino-americanos têm um lastro histórico, mas são identificados com frequência à persistência da corrupção nas instituições republicanas. Por isso, deveria chamar mais atenção da imprensa a frase de Evo Morales, para quem “as pessoas estão fartas da corrupção”.
Portanto, um dos grandes desafios do espectro político que ocupa os poderes presidenciais na maioria dos países latino-americanos e caribenhos é preservar o poder sem continuar alimentando sua base de apoio com verbas desviadas dos cofres públicos.
Mas há outra questão, que vem sendo evitada pelos analistas credenciados pela imprensa e por celebrizados pensadores que se alinham às correntes consideradas “de esquerda” na América Latina: os avanços produzidos na economia e no bem-estar social na última década não foram resultado de uma “revolução”, no sentido geralmente associado ao pensamento “de esquerda”. O que houve, mais claramente, foi uma opção pela modernidade.
Sob esse aspecto, já é tempo de algum “sacolejo” intelectual nesse debate: o que move a sociedade contemporânea para a frente, no objetivo de vencer as desigualdades sociais e proporcionar mais bem-estar para todos, não é a ruptura da “revolução”, mas o movimento contínuo e consciente em direção à civilização.
Se a vanguarda progressista trocar a ilusão da revolução pela utopia da modernidade, a retaguarda reacionária ficará sozinha no escuro.

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