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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Viagem à Boemia - 1929




O texto abaixo é a transcrição de uma carta escrita em 1929 por Martin Zipperer (1890-1971), diretor e mentor da fabrica de móveis,situada em Rio Negrinho SC, que viria a se tornar a Moveis CIMO em 1944, a maior fabrica de moveis do Brasil na década de 1950/60. Foi publicada pela revista alemã Glaube und Heimat poucas semanas depois do passamento do missivista, que ocorreu em 23 de novembro de 1971.

Martin Zipperer escreve de maneira rápida, entre os diversos objetivos de sua viagem, o que deixa o texto um pouco confuso, mas sem duvida é de valor inestimável para a historiografia de São Bento do Sul, visto que é uma das primeiras experiências de descendentes dos imigrantes oriundos da Boemia que volta a terra natal de seus antepassados.

Tradução henry Henkels – fevereiro de 2013



Rothenbaum, 20 de Julho, 1929

Queridos pais e irmãs

Fiz boa viagem de Viena passando por Linz e Kremstal – esta ultima 120 km de carro a partir de Linz, onde visitei uma fabrica de compensados de madeira. Dali segui a noite passando por Wels até Passau, onde pernoitei. No dia seguinte (o 18º) segui por uma estrada secundária passando por Plattling, Deggendorf  e  Zwiesel, até chegar à Eisenstein ainda às 9:00 horas. Fiquei em Eisenstein até as 3:00, onde queria me informar a respeito do Altmann (cervejaria que você meu pai trabalhou naquela época). Perguntei aqui e ali, mas morreram todos já, até mesmo Konrad, o antigo dono da cervejaria, esta que na verdade ainda existe, mas [o antigo proprietário] não conseguiu mantê-la se mudando para Leitmeritz, onde faleceu mais tarde ainda exercendo a profissão de Mestre Cervejeiro.

As 4:00 horas, depois de uma viagem maravilhosa com um tempo radioso cheguei à estação (ferroviária?) de Neuern. Comprei um mapa novo (mapa turístico) como qual me foi possível imediatamente me localizar e nomes familiares começaram a aparecer: Frisehwinkel, Storner, etc. No mapa qualquer casa de aldeão aparece e mesmo o Vale de Hammern, terra natal de nossa mãe. Terra maravilhosa de verdadeira beleza, em que já me encontrava desde o dia anterior junto aos montes pre-alpinos, mas essas portentosas matas de verde escuro causam grande impressão, em contraste vilarejos propriedades rurais semeados em meio aos campos e vales. Adiante chega-se a Deschenitz e Neuern.

Tomei um automóvel e fui imediatamente para Rothenbaum. Não posso numa carta  descrever o que me vai por dentro, enquanto o chofer vai declamando os nomes: Chudiwa, ou então Sollern, Mittelflecken, Vorderflecken e todos esses nomes campônios tão conhecidos, ali Peternhof,  lá Goglbauer, acolá Mendelbauer e então, descendo a colina, a torre da igreja de Rothenbaum. Fui me hospedar na estalagem do lugar, mas não quiseram me acolher por [achar que eu fosse um] estranho só de passagem num automóvel, sugerindo para mim arrumar acomodações na escola ou com o  padre na igreja. Só depois de eu explicar que sou um descendente de Witwentoni é que a mulher do antigo estalajadeiro veio a mim falando que conheceu bem essa gente. Quebrou o gelo e me contou muitas coisas... A senhora que cuida da hospedaria  agora é uma das filhas do há 4 anos falecido  Krothoma Wolfgang, de nome Hass, ainda é bastante jovem.

A noite apareceu muita gente por ali querendo saber coisas nossas.Visitei Maria F. irmã da Frau Rank, casada, mas muito vigorosa ainda. Havia um Mühlbauer, primo do nosso Michael Mühlbauer, que estava de passagem por aqui, mas disse se lembrar muito bem do tempo da emigração. Também tinha um Josef Maier, cuja avó era de Peternhof – Mathes Haus, lugar de onde vocês se mudaram. Estamos numa ramificada parentelha de tipos [relacionados com os] Zipperer.

Estive com o professor, neto de [.... clima (??)] as nogueiras não existem mais. (1) O padre viajou e neste interregno estive em Hammern e Grün, visitando todos ali. Josef Pscheidt morreu há 4 anos e seus parentes estão brigando entre si desde então.



Estive no cemitério, na igreja... vocês não podem imaginar o que é passar por todos esses lugares e ler nomes conhecidos em todo o canto. Em Modlhof encontrei um grupo de mulheres que todas tem parentes em São Bento, umas do Wastlgirgl e do Rückl (Puchermühle), entre outras... Em Neuern bei Luft [encontrei] um primo de Wenzel Kahlhofer, que também era negociante [a quem pertence um negócio – no original].

Às 9:00 horas quando voltei para a hospedaria a casa estava cheia de camponeses: Reithmoier,  Stauber,  e um descendente do Stauber Adam, o do polegar grande. De Peternbauer ainda se identificam Zipperer’s, de Goglbauer os  Zallner, todos das novas gerações. Tive que ficar conversando com eles até as 3:00 horas da manhã. Li algumas passagens do livro de nosso pai para eles e vi lagrimas brilhar em alguns olhos.

Daquele Maier que citei acima, que era de Mathes Haus e nosso parente próximo por parte de sua mãe, dele e de seus filhos eu sempre estava junto. A curiosidade de todos e vontade de se informar é tocante. Este Maier tem uma simpática família, todos muito musicais [SIC]. Um de seus filhos é capitão no exercito da Tchecoslováquia. Acabamos de chegar a pé, baixo a um bonito luar, do Grouhanswirt onde aconteceu uma reunião hoje em que vieram camponeses de toda a redondeza por causa de [problemas com] criação de animais.

Amanhã depois da missa (católica) devo ler passagens do livro de nosso pai e se espera que venha gente de todas as aldeias próximas. As pessoas vem a mim como se já nos conhecêssemos de longa data. O interesse por informações é geral.

De maneira geral as pessoas levam uma vida muito boa, e alguns parecem ser bem ricos até; a satisfação das pessoas domina por aqui.

Pois é, eu me sinto como em casa aqui na velha terra natal, nem posso descrever como todos me tratam bem.

As pessoas de Flecken são muito argutas. Muitos foram para a guerra [1ª Grande Guerra], o que  foi um choque e causou muita confusão [consternação?] entre eles. Muitos tombaram. Vou levar uma lista dos nomes dos que pereceram na guerra, de Flecken, bem como de Hammern.

Passei um dia muito agradável com a família Maier, e agora no retorno a Rothembaum, me acompanharam um filho e duas filhas dele, juntos cantamos à luz do luar, que até ecoou [pelos campos].

Amanhã cedo vou visitar mais camponeses, fotografá-los, fazer mais anotações e segunda-feira cedo parto pelas matas de Furth em direção a Nürnberg, Stuttgart e Krefeld, o que quer dizer: “Deus guarde a Boemia, eu vou para casa!”.

Foram dias maravilhosos que eu pude passar aqui. Estou levando belas canções, literatura sobre nossa linda terra natal, para a nossa nova pátria Brasil.

Saudações de seu Martin, até meu retorno.


NOTAS DO TRADUTOR

(1) Frase sem sentido, truncada, redigida ou transcrita incompleta pela revista.







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