* Este blog luta por uma sociedade mais igualitária e justa, pela democratização da informação, pela transparência no exercício do poder público e na defesa de questões sociais e ambientais.
* Aqui temos tolerância com a crítica, mas com o que não temos tolerância é com a mentira.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Costa Concordia, Titanic e Europa - é tudo o mesmo barco


por Saul Leblon, no blog das Frases/Carta Maior


Certos desastres e rupturas históricas renovam os riscos inerentes a um tipo de cegueira gerado pelo excesso de confiança na razão, como já alertaram Adorno e Horkheimer. O comandante Francesco Schettini, do 'Costa da Concórdia', confiou cegamente em instrumentos náuticos, na 6ª feira, 13; levou um transatlântico com 4.200 passageiros rumo a rochas que, nas suas palavras, 'não deveriam estar lá', embora navegasse a 300 metros da costa. 

Seu companheiro de infortúnio em 1912, Edward Smith, comandante do Titanic, confiou expressamente no progresso da ciência e da tecnologia que prometia um titã à salvo da natureza: uma embarcação esfericamente racional, incapaz de afundar. A soberba levou-o a menosprezar alertas sobre icebergs na rota. O gelo rasgou o aço do colosso que afundou em duas horas e 30 minutos: 1.500 pessoas morreram. 

A resposta de Ângela Merkel à perda do grau de confiança de nove países do euro, rebaixados por uma agência de risco também na sexta-feira feira 13, é outro capítulo da blindagem da razão, neste caso, por interesses que querem manter a sociedade na rota dos 'mercados autoreguláveis'. 

Merkel reagiu ao solavanco da 6ª feira como uma discípula de Schettini e Edward Smith: mandou acelerar as hélices da UE rumo ao pedral ortodoxo, endurecendo a defesa do arrocho fiscal numa Europa abalroada por desemprego crescente e receitas minguantes. 

No Brasil expoentes conservadores mostraram-se estupefatos em agosto passado, quando o BC alterou a rota dos juros para desviar o país da recessão mundial. Em nome da razão de mercado o coro exortava o BC pela mídia: 'toca em frente; toca em frente!' Nesta 4ª feira acontece a 1ª reunião do Copom em pleno agravamento da crise européia. Mais que nunca, o governo tem legitimidade para proceder a um novo e significativo corte do juro. As pedras estavam lá. A ver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário