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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A produção brasileira de borracha é retomada para suprir os aliados na 2ª Guerra Mundial


Breve História da Borracha Parte 4

Durante a Primeira Grande Guerra, para cada envolvido no serviço militar a máquina de guerra utilizava 16 quilos de borracha, enquanto na Segunda Guerra Mundial essa quantidade tinha aumentado para 98 quilos, motivo pelo qual estava justificada a qualificação da matéria-prima como "estratégica".

Como vimos as plantações da Malásia haviam caído na mão dos japoneses e os aliados ficaram em situação precária de fornecimento deste insumo fundamental no esforço de guerra. Mas qual a solução?... Recorreu-se novamente ao velho esquema que tinha proporcionado o boom borracheiro: o extrativismo, explorando os seringais amazônicos que ainda estavam em mãos dos seringalistas tradicionais. Havia urgência de borracha para o esforço aliado, mas para efetivar um grande programa de oferta baseado novamente no extrativismo amazônico haveria urgência de trabalhadores. Essa contingência marcava o ritmo dos trabalhos de preparo de um amplo esquema de recrutamento e condução dos trabalhadores até os seringais na floresta. Recorreria-se novamente à população do nordeste brasileiro.

Ainda em 1940, o presidente Vargas já havia autorizado a diretoria do Lloyd Brasileiro a conceder, gratuitamente, 4.000 passagens para trabalhadores nordestinos que desejassem ir para os seringais da Amazônia e do Acre. Mas esse ato ainda não estava ligado diretamente às ações de guerra especificamente, mas já havia uma tendência a se alinhar com os EUA. Assim como conseqüência da política brasileira de alinhamento, se volta parcialmente ao extrativismo decorrente de diversos acordos comerciais firmados na década de 1930 com a Alemanha. Os alemães tinham se tornado os maiores compradores da produção gomífera da Amazônia antes de eclodir a guerra na Europa.

Os americanos reagem a essa situação e, para alijar os alemães, passam a oferecer preços mais vantajosos antes ainda de o Brasil entrar na guerra. Os setores ligados aos interesses do extrativismo da borracha viam assim seus interesses convenientemente atendidos pelo governo Vargas.

Nos anos 1941/1942 o Brasil se encaminha agora firmemente para se definir pelo lado dos Aliados na guerra, de forma que foram assinados os acordos com Washington, comprometendo o governo brasileiro sob Getulio Vargas a produzir borracha para atender as necessidades dessa facção, com o lema "mais borracha em menos tempo". Por sorte este mesmo ano, 1942, também foi marcado pela seca na região nordestina, criando uma conjuntura favorável ao recrutamento de trabalhadores para os seringais da Amazônia. Embora a seca de 1942 não tenha sido de extrema da gravidade em relação as que a precederam no século XX, ainda assim colocou os retirantes em condição de ser recrutados facilmente.

Rapidamente a Coordenação da Mobilização Econômica do governo federal criou o SEMTA – Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para o Amazonas. Também foi criado o SESP – Serviço Especial de Saúde Pública, que tinha por objetivo sanear a Amazônia e a região do Vale do Rio Doce, onde se produzia borracha e minério de ferro, matérias-primas estratégicas para os aliados.

O SEMTA assinou novo convênio com o Lloyd Brasileiro que forneceria passagens. Somente em Fortaleza cerca de 30 mil flagelados da seca estavam disponíveis para ser enviados imediatamente para os seringais. Mesmo que de forma pouco organizada, o DNI – Departamento Nacional de Imigração) ainda conseguiu enviar quase 15 mil pessoas para a Amazônia, durante o ano de 1942, metade das quais homens aptos ao trabalho nos seringais.

Mesmo com o fornecimento de passagens pelo Lloyd Brasileiro, com a abertura de créditos especiais pelo governo brasileiro e com a promessa do governo americano de pagar US$ 100 por um novo trabalhador instalado no seringal, as dificuldades eram imensas e pareciam intransponíveis. Isso só começou a ser solucionado em 1943 por meio do investimento maciço que o governo norte-americano facilitou para o SNAPP – Serviço de Navegação e Administração dos Portos do Pará – e da construção de alojamentos espalhados ao longo do trajeto percorrido pelos “soldados da borracha”, como agora eram conhecidos esse migrantes. A entrada em cena do SNAPP não resolveu o problema do transporte de longo curso dos migrantes que continuou sendo feito pelos navios do Lloyd Brasileiro.

Soldados da borracha, partindo de Fortaleza, Ceará, no ano de 1943 - CLIQUE QUE AMPLIA


Para acelerar ainda mais a transferência de trabalhadores para a Amazônia e aumentar significativamente a produção de borracha os governos americano e brasileiro encarregaram diversos órgãos do gerenciamento do programa. Pelo lado americano foi criado o BEW – Board of Economic Warfare, ligados a administração de Washington além das empresas de natureza privadas como a RDC – Rubber Development Corporation, a RRCO – Rubber Reserve Company, a RFC – Reconstrucction Finance Corporation e a DESCO – Defense Supllies Corporation. Pelo lado brasileiro, foram criados a SAVA – Superintendência do Abastecimento do Vale Amazônico e o BCB – Banco de Crédito da Borracha, além do já citado SEMTA – Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia, depois substituído pela CAETA – Comissão Administrativa de Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia.

Apesar de todos os problemas enfrentados (ou provocados) por essa mixórdia de órgãos encarregados para dar cabo à “Batalha da Borracha”, cerca de 60 mil pessoas foram enviadas para os seringais amazônicos entre 1942 e 1945. Muitos acabaram morrendo em razão das péssimas condições de transporte, alojamento e alimentação durante a viagem. As mortes desses migrantes são avaliadas a ascender a cifras superiores a 25 mil. Isso aconteceu pela absoluta falta de assistência médica, ou mesmo em função dos inúmeros problemas ou conflitos enfrentados nos seringais.

Mesmo assim a produção de borracha na Amazônia nesse período foi infinitamente menor do que o esperado, o que levou o governo americano, já a partir de 1944, a transferir muitas de suas atribuições para órgãos brasileiros. E tão logo a Guerra Mundial chegou ao fim, no ano seguinte, os EUA se apressaram em cancelar todos os acordos referentes à produção de borracha amazônica. O acesso às regiões produtoras do Sudeste Asiático se achava novamente aberto. A tecnologia para a produção da borracha sintética a partir do petróleo está dominada e o mercado internacional logo se normalizaria.


[NÃO CONTINUA]

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