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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Pânico entre os plutocratas



Paul Krugman, no The New York Times




Ainda não sabemos se os protestos de "Ocupar Wall Street" vão transformar o rumo da América. Mas eles já suscitaram uma reação surpreendentemente histérica de Wall Street, dos super-ricos em geral e de políticos e especialistas que costumam servir aos interesses do centésimo de 1% mais ricos da população.

E essa reação nos revela algo importante: que os extremistas que estão ameaçando os valores americanos são aqueles que FDR (Franklin Delano Roosevelt) chamava de "monarquistas econômicos", e não as pessoas acampadas no parque Zuccotti.

Considere, para começar, como políticos republicanos têm descrito as manifestações --de dimensões modestas, mesmo que crescentes--, que vêm envolvendo alguns enfrentamentos com a polícia, enfrentamentos que parecem ter provocada reações policiais exageradas mas que não foram nada que se pudesse descrever como um tumulto.

Na realidade, não se viu até agora nada que se equipare ao comportamento das multidões do Tea Party no verão de 2009.

Mesmo assim, Eric Cantor, o líder da maioria na Câmara, denunciou os “mafiosos” e "jogar americanos contra americanos". Os candidatos presidenciais republicanos também se manifestaram, com Mitt Romney acusando os manifestantes de travar "guerra de classes", enquanto Herman Cain os tacha de "antiamericanos".

Meu favorito, contudo, é o senador Rand Paul, que, por alguma razão, teme que os manifestantes comecem a confiscar iPads por achar que os ricos não merecem tê-los.

Michael Bloomberg, prefeito de Nova York e titã da indústria financeira por seus próprios méritos, foi um pouco mais moderado, mas, mesmo assim, acusou os manifestantes de tentarem "tirar os empregos de pessoas que trabalham nesta cidade", afirmação que não guarda relação alguma com os objetivos reais do movimento.

E, se você ouviu as cabeças pensantes da CNBC, descobriu que os manifestantes "deixaram suas bandeiras de maluco voar soltas" e são "alinhados com Lênin".

Para entender tudo isso, é preciso perceber que faz parte de uma síndrome mais ampla na qual americanos ricos que se beneficiam tremendamente de um sistema que é manipulado em favor deles reagem com histeria a qualquer pessoa que chame a atenção para o grau em que o sistema é enviesado.

No ano passado, como você talvez se recorde, vários tubarões do setor financeiro reagiram enlouquecidos a uma crítica, bem branda até, expressa pelo presidente Barack Obama. Eles denunciaram Obama como sendo quase socialista por ter endossado a regra Volcker, que teria simplesmente proibido bancos apoiados por garantias federais de praticarem especulações arriscadas.

Quanto às reações deles às propostas de se fechar uma brecha que permite que alguns deles paguem impostos baixíssimos, bem, Stephen Schwarzman, presidente do grupo Blackstone, as comparou à invasão da Polônia por Hitler.

E há a campanha de assassinato moral lançada contra Elizabeth Warren, a reformadora financeira que concorre ao Senado pelo Massachusetts.

Não faz muito tempo, um vídeo dela no YouTube (altamente recomendado assitir, mesmo sem tradução ou legendas, ainda), apresentando um argumento eloquente e pragmático em favor de impostos, ganhou vida viral. Nada do que ela disse foi radical _não passou de um olhar moderno sobre o célebre ditado de Oliver Wendell Holmes segundo o qual "os impostos são o que pagamos por uma sociedade civilizada".

Mas, a julgar pelos confiáveis defensores dos ricos, seria possível pensar que Elizabeth Warren é a reencarnação de Leon Trotsky. George Will declarou que ela tem uma "agenda coletivista", que ela crê que "o individualismo é uma quimera". E Rush Limbaugh a chamou de "uma parasita que odeia seu hospedeiro. Que se dispõe a destruir o hospedeiro enquanto lhe suga a vida."

O que está acontecendo aqui? A resposta, sem dúvida, é que lá no fundo os Mestres do Universo de Wall Street se dão conta de quão moralmente indefensável é sua posição. Eles não são John Galt; não são nem sequer Steve Jobs.

São pessoas que enriqueceram promovendo esquemas financeiros complexos que, longe de render benefícios claros para a população americana, ajudaram a nos mergulhar numa crise cujos efeitos continuam a devastar as vidas de dezenas de milhões dos concidadãos deles.

No entanto, eles não pagaram preço algum. Suas instituições foram resgatadas pelos contribuintes, de modo quase incondicional. Eles continuam a beneficiar-se de garantias federais explícitas e implícitas _basicamente, continuam a jogar um jogo de "se der cara, eles ganham; se der coroa, os contribuintes perdem".

E se beneficiam de brechas tributárias que, em muitos casos, possibilitam que pessoas com rendas multimilionárias paguem alíquotas de impostos mais baixas que famílias de classe média.

Este tratamento especial não resiste a um escrutínio atencioso, logo, na visão deles, não pode haver escrutínio atencioso. Qualquer pessoa que chame a atenção para o óbvio, não importa com que calma e moderação o faça, deve ser demonizada e expulsa do palco de ação.

Na realidade, quanto mais razoável e moderado soa um crítico, mas urgentemente ele ou ela precisa ser demonizado. É a razão do frenesi em denegrir Elizabeth Warren.

Quem, então, está realmente sendo antiamericano aqui? Não os manifestantes, que estão simplesmente tentando fazer-se ouvir. Não, os verdadeiros extremistas aqui são os oligarcas da América, que querem sufocar qualquer crítica às fontes de sua riqueza.

Tradução Clara Allain da FSP, com um boa revisão botocuda



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