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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Viver a vida

Rumba Louca - Gouache sobre papel de Marcio Melo, 1999 (clique que amplia)


Cláudio Lembo, no Terra Magazine

Nenhuma notícia na imprensa pátria. Desconhecimento absoluto. Como se nada houvesse acontecido. No entanto, ocorreu. Uma onda de suicídios de executivos varre a França.

A França é o país europeu onde mais se verificam atos de morte voluntária. Todos os anos, mais de cento e sessenta mil pessoas atentam contra a própria vida. Doze mil morrem.

O caso francês, com situações correlatas em outros países da União Europeia, indica uma situação social de anormalidade. A Europa encontra-se esgotada.

O velho continente já não aponta para novas conquistas intelectuais ou materiais. Está em processo de fragilização. No entanto, muitos brasileiros ainda ficam extasiados quando se referem à Europa.

São incapazes de perceber que o vento do novo sopra sobre a América Latina, apesar das aparências por vezes em contrário. É neste continente - exatamente o Novo Mundo - onde se realizam as grandes mudanças.

Após anos de colonização direta e mental, os latino-americanos compreenderam a importância de se debruçar sobre as próprias raízes e captar a seiva que vem desta experiência.

Já não há menosprezo para os autóctones. Ser descendente dos colonizadores ibéricos já não é importante. Leva-se em consideração, na atualidade, o saber viver os valores locais.

Durante séculos, a História dos povos latino-americanos foi contada de acordo com a ótica do colonizador. Tudo era visto, a partir das descrições dos padres missionários.

A situação mudou. Os antigos manuais utilizados nos confessionários foram postos de lado. O pesado complexo de culpa que era disseminada na sociedade foi superado.

Hoje, nos trópicos e subtrópicos vive-se mais espontaneamente. De acordo com a natureza e de conformidade com valores elaborados, por aqui, no decorrer dos séculos.

Os surtos de melancolia que percorrem a Europa não atingem as praias do Atlântico Sul ou do Pacífico austral. Novas formas de convivência brotaram abaixo do Equador, de maneira acentuada no Brasil.

Não recebemos os acordes tristes do fado. Ficamos com os ritmos vibrantes da África. Admiramos a capoeira e a transformamos no balé das terras do Sol.

"Aqui se vive intensamente. Os corpos possuem a vibração vinda
da própria atmosfera" (foto: Getty Images)

Tudo isto parece mero ufanismo. Talvez seja. É incontestável, contudo, que se vive, nestas terras ensolaradas, de maneira diferente de nossos ancestrais europeus.

Eles trouxeram as velhas tradições de culto aos mortos. Ergueram cemitérios grandiosos. A morte se encontrava presente em todos os aspectos do cotidiano.

Nada, porém, menos presente nos costumes nacionais que a morte. Diferente de outros povos, onde o culto à morte é fundamental, os brasileiros amam a vida.

Querem viver e deixar viver. A dramática onda de suicídio presente na França, dificilmente ocorreria por aqui. As pessoas contam, aqui, com tantos desafios. Estes geram otimismo espontâneo.

É importante que os brasileiros, especialmente aqueles que se orgulham de suas posições acadêmicas, exponham mais sobre o Brasil e suas qualidades.

São poucos os mestres que buscam na História do Brasil base para suas aulas. Gostam de mostrar erudição. Citar autores nacionais parece pouco qualificado.

São os intelectualmente colonizados. Precisam se libertar das amarras com o velho continente sem vigor. A nostalgia não é sentimento presente na alma brasileira.

Aqui se vive intensamente. Os corpos possuem a vibração vinda da própria atmosfera. É preciso entender as exigências de nossa sociedade sob pena de alienação.

Os dramáticos suicídios disseminados entre os franceses demonstram um esgotamento de energia no espaço europeu. Vamos aproveitar a energia de nossa gente e construir novas formas de convivência.


NOTA BOTOCUDA

Esse Claudio Lembo é um dos poucos representantes da direita brazuca que eu gosto.

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