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quarta-feira, 22 de junho de 2011

Seção História de São Bento - O quadro da cega justiça






No ano de 1904 o médico e político sãobentense Felipe Maria Wolff resolveu encomendar uma tela a uma escola de pintura em Munique, na Baviera. Não se sabe se a encomenda definia algum motivo para o quadro, ou se a escola experimental ou ainda o próprio o artista produziu o tema de sua própria iniciativa.

A obra, fraca do ponto de vista artístico, foi pintada por um aprendiz de apenas 18 anos, que se tornaria muito famoso e controvertido alguns anos mais tarde no movimento cubista alemão, na fundação da escola Bauhaus de desenho industrial e na arquitetura expressionista. Seu nome era Hermann Finsterlin.

A tela que veio a lume mostra uma figura da deusa simbolizando a justiça (as vezes Athena, Themis ou Dice) com sua venda nos olhos para não ver o preconceito. Segura a balança da imparcialidade na mão esquerda erguida e a espada justa - com seus dois fios, a recompensa para os bons e punição para os maus, na mão direita. Sob os pés esmaga a serpente do mal apoiada no pilar do conhecimento, um livro. Como muitas das representações alegóricas da justiça, também se apresenta com um seio a mostra, simbolismo hermético que não apresenta unanimidade por parte de diferentes interpretações, que talvez não queira dizer nada e não passe de uma simples figura de esteticismo.

O quadro, de 2,2 x 1,4 m, foi pintado no ano seguinte à sua encomenda, em 1905, e despachado para o Brasil assim que foi concluído. Não se conhecem registros do valor que tenha sido pago à escola de arte ou ao artista e quem teria bancado isso, talvez o próprio Dr. Wolff.

Ao chegar ao porto de São Francisco a obra foi retida na alfândega e estabelecida uma taxa para sua liberação, um valor (que também não se conhece) que foi considerado absurdo por parte das pessoas de São Bento interessadas. Esgotado o prazo de uns dois anos sem que alguém se dispusesse a resgatar o quadro, se fez um leilão, em 1907 ou 1908. O Superintendente Municipal (corresponde ao prefeito atual) de São Bento, Manuel Tavares, desceu a Joinville para participar do leilão e arrematou a peça artística pela nada módica quantia de 2:800$000 (dois contos e oitocentos mil réis – que corresponderia a aproximadamente R$ 32 mil, em valores atuais - 2011).

Trazido para São Bento o quadro foi colocado na parede do hospital provisório que o Dr. Wolff mantinha em sua residência, a Vila Erica, atual prédio do Museu Municipal. Isso permite imaginar que tenha sido o próprio médico e político que tenha arcado com o valor do quadro pago ao artista ou à escola originalmente. Mas o Dr. Wolff faleceu em outubro de 1910.

Passado algum tempo, a pintura foi removida da antiga residência do médico falecido e transferida para o prédio da Superintendência Municipal, onde foi pendurada no salão principal, por volta de 1914. Isso causou imediato descontentamento por parte de muitas pessoas, visto o caráter devasso da nudez (um seio descoberto) da deusa. Depois de intenso debate sobre a propriedade de um quadro assim poder ficar exposto ali, acabou por ser retirado. A partir daí o quadro não teve mais paradeiro definitivo. Rodou por muitos lugares e por fim foi parar em depósitos, escondido por anos e anos e assim foi se deteriorando.

Em 1965, o juiz de direito da comarca, o Dr. Maximiliano Morgenstern, resolveu mandar restaurar o quadro que agora se encontrava em péssimo estado de conservação. Para isso contratou o pintor Werner Günther, que coincidentemente tinha o seu atelier na mesma Vila Erica, antiga residência e mini-hospital do Dr. Wolff.

De lá pra cá ficou em exposição no antigo prédio do Fórum Municipal no centro da cidade depois foi transferido para o prédio atual, onde se encontra no hall da escadaria e pode ser visto até hoje.

Um comentário:

  1. Mas isso não caia bem ao Dr. Wolff não. Balança da imparcialidade? Na casa dele? =)

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