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terça-feira, 15 de março de 2011

China assume a dianteira na corrida pela energia nuclear limpa

Imagem: Usina Nuclear torres de resfriamento em Byron, Illinois ( Doug Bowman / Flickr)


por Richard Martin, no Wired Science Tradução: Marcos O. Costa

A China anunciou oficialmente que vai lançar um programa para desenvolver um reator nuclear de sal fundido a base de tório, dando um passo decisivo para transformar a energia nuclear em uma fonte primária limpa.

O projeto foi apresentado na reunião anual da Academia Chinesa de Ciências em Xangai na semana passada, e relatada no jornal Wen Hui Bao (Google Inglês tradução aqui ).

Se o reator funcionar como o planejado, a China poderá realizar um sonho longamente adiado de produzir-se energia nuclear limpa. Os Estados Unidos poderiam se tornar dependentes da tecnologia chinesa, ficando drasticamente para trás na corrida pelo desenvolvimento de energias verdes.

“O presidente Obama falou sobre uma reação americana, semelhante à ocorrida após o lançamento da Sputnik “, escreveu Charles Barton, criador do blog Nuclear Green Revolution.

Enquanto quase todos os atuais reatores nucleares funcionam com urânio, o elemento radioativo tório é conhecido como um combustível alternativo mais seguro, mais limpo e abundante. O tório é particularmente adequado para uso em reatores de sal fundido, ou MSRs. As reações nucleares ocorrem dentro de um núcleo líquido ao invés de barras de combustível sólido, e não há risco de colapso.

Além de sua segurança, os MSRs podem consumir vários tipos de combustível nuclear, incluindo as reservas existentes de resíduos nucleares. Seus derivados não são adequados para a fabricação de armas de qualquer tipo. Eles também podem atuar como breeders, produzindo mais combustível do que consomem.

Na década de 1960 e 70, os Estados Unidos fizeram uma extensa pesquisa sobre tório e MSRs no Oak Ridge National Laboratory. Este trabalho foi abandonado, em parte porque os reatores com base em urânio geram, como subproduto, plutônio para bombas. Hoje, com menos demanda por armas nucleares e diante do crepúsculo do petróleo barato, vários países – incluindo Portugal, França e Noruega – estão perseguindo os ciclos à base de tório como combustível nuclear. (O movimento popular para promover um reator americano alimentado por tório foi abordado na revista Wired de Dezembro de 2009 ).

O novo programa chinês é a maior iniciativa nacional de tório-MSR até hoje. A República Popular da China já havia anunciado planos para construir dezenas de novos reatores nucleares nos próximos 20 anos, aumentando a sua oferta de energia nuclear em 20 vezes , e se desprendendo do carvão, do qual ela é uma das maiores consumidoras do mundo. Projetar um reator de sal fundido à base de tório pode colocar a China na vanguarda da corrida para construir reatores ambientalmente seguros, eficazes e politicamente palatáveis.

“Precisamos de um forno capaz de queimar mais combustível”, diz Xu Hongjie, investigador principal do Instituto de Física Aplicada de Xangai, segundo o Wen Hui Bao.

O programa especial da China é liderado por Jiang Mianheng, filho do ex-presidente chinês Jiang Zemin. Vice-presidente da Academia Chinesa de Ciências, o jovem Jiang é Ph.D. em Engenharia Elétrica pela Drexel University. Uma delegação chinesa liderada por Jiang revelou os planos com o tório para os cientistas de Oak Ridge, durante uma visita ao laboratório nacional no ano passado.

O anúncio oficial acontece no momento em que o governo Obama comprometeu-se a financiar fundos de pesquisa para a próxima geração de tecnologia nuclear. O presidente mencionou especificamente Oak Ridge National Laboratory, no seu discurso de 25 de janeiro, mas o fato é que, atualmente, não há nenhum programa financiado pelo governo para o desenvolvimento do tório como combustível alternativo nuclear.

Uma fonte de energia nuclear chinesa à base de tório é vista por muitos analistas como uma ameaça à competitividade econômica dos EUA. Durante uma apresentação em Oak Ridge em 31 de janeiro, Jim Kennedy, CEO da St. Louis Wings Enterprises (que está tentando ganhar a aprovação para iniciar uma mina de terras raras e tório em Pea Ridge, Missouri) retratou o desenvolvimento de tório chinês como potencialmente devastador.

“Se perdermos o barco sobre isso, como poderemos competir na economia mundial?” Kennedy perguntou. “O que mais teremos para exportar?”

De acordo com especialistas, os Estados Unidos poderiam ser obrigados, daqui a 20 anos, a importar uma tecnologia que foi, originalmente, desenvolvida em um de seus principais institutos de pesquisa. A versão alarmista da estratégia chinesa sobre a próxima geração de energia nuclear pode ser assim resumida: Se você gosta de dependência do petróleo estrangeiro, você vai amar a dependência externa nuclear.

“Quando ouvi isso, pensei: já aconteceu”, disse Kirk Sorensen, tecnólogo nuclear-chefe do Teledyne Brown Engineering e criador do blog Energy From Thorium. “Talvez isso possa chamar atenção das pessoas em Washington”.

Embora a iniciativa internacional “Geração IV” inclui um grupo de trabalho sobre MSRs de tório, a China deixou claro sua intenção de ir sozinha. O anúncio da Academia Chinesa de Ciências afirma, explicitamente, que a China pretende desenvolver e controlar a propriedade intelectual em torno de tório para seu próprio benefício.

“Isso permitirá à China deter, em suas mãos, o controle firme da produção de energia”, afirmou a reportagem do Wen Hui Bao.


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