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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Impostos e Fraudes


Texto antigo (mas pra lá de bom) de Carlos Motta

O sociólogo e professor universitário Alberto Carlos Almeida, autor do livro "A Cabeça do Brasileiro", escreve, na coluna semanal que tem no caderno Eu&Fim de Semana, do "Valor", que uma cesta de itens de higiene pessoal comprada nos Estados Unidos tem uma carga de impostos absurdamente menor que outra idêntica adquirida no Brasil.

Feita a constatação, assegura que "sustentamos um governo ineficiente e caro". E na sua condição de intelectual requisitado para conferências e palestras sobre os rumos políticos do país assevera que "os argumentos técnicos não resistem a este exercício prosaico e simples: fazer a mesma compra nos dois países e comparar o preço final da compra com os salários médios da economia".

No fim, não resiste à tentação e compara os dois principais candidatos presidenciais: "Serra disse no discurso que lançou sua candidatura que a carga tributária no Brasil é sideral, faltou completar dizendo que ela precisa ser reduzida. Um é corolário do outro. Dilma precisa acordar para isso. Até agora não se ouviu uma palavra sequer da boca de Dilma acerca de nossa carga tributária. Não creio que ela só faça compras nos EUA."

Quem lê um artigo desses se atendo apenas aos títulos e à qualificação do autor, certamente se impressionará e acabará concordando com ele: puxa vida, como é que os EUA, com impostos tão mais baixos e salários tão maiores, conseguem ter um custo de vida equivalente ao do Brasil? Só pode ser porque nosso governo não presta e o deles é a melhor coisa do mundo.

Mas, se riscarmos um pouco o verniz do suposto cientifismo do escrito, vamos ver que ele é totalmente tolo, infantil e, pior, fraudulento: o autor esqueceu de dizer aos seus queridos leitores que a carga tributária brasileira sustenta um sistema universal de saúde que os EUA estão apenas agora prestes a possuir; um sistema de ensino universitário gratuito, que os EUA não têm; e um sistema de previdência social que garante aposentadorias para todos os trabalhadores - que os EUA nem sequer imaginam como seja.

Também omitiu um dado importante: a reforma tributária ainda não saiu porque nem os prefeitos, nem os governadores, incluindo os da oposição ao atual governo, querem.

No fundo, esse palavrório todo do ilustre sociólogo não passa de uma propaganda disfarçada de uma ideologia totalmente fracassada que prega o "Estado mínimo" para que os empresários possam usufruir do "lucro máximo" sem risco nenhum.



Nota botocuda:

O eminente tributarista sociológico também passa muito longe de revelar para alguém que o grosso dos impostos americanos incidem sobre a renda enquanto aqui, insuflados pelas elites parasitárias daninhas, a tributação se dá preferencialmente sobre o consumo, o que acaba penalizando toda a massa assalariada e os pobres, enquanto as grandes fortunas passam ao largo, na sonegação. É isso que defendem as oligarquias quando promovem esse circo detratando e depois derrubando a CPMF, que era uma ótima ferramenta pra monitorar as movimentações de grandes fortunas.

2 comentários:

  1. Sua contestação ao Almeida (tributação sobre renda X tributação sobre consumo) é correta. Quisera o Carlos Motta ter seguido esta linha, mas em vez disso preferiu falar um monte de bobagens.

    Sistema de saúde gratuito (que certamente ele não tem coragem de usar). Previdência social "universal" (para funcionários públicos, o resto tende ao salário mínimo). Ensino universitário (que produz muito pouca ciência e faz greve todo ano).

    Tem mais: viver no Brasil não está mais caro apenas em relação aos EUA, o pet hate dos esquerdinhas; está mais caro que na Europa também, onde a carga tributária é alta e o suporte social que no Brasil só existe no papel, lá existe na prática.

    Logo se vê que o cara não é nem tenta ser um jornalista de verdade, porque em vez de ir atrás dos fatos, preocupou-se exclusivamente em contradizer o outro, como se fosse um advogado num tribunal. Advogado será de quem?

    Mas enfim, apontar problemas virou anátema agora. Brasil, ame-o ou deixe-o. Deja vu de 1971. (Tendo nascido em 75, confesso que até tem uma certa graça conhecer o zeitgeist the uma época passada.)

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  2. Pior que isso e morar em tipos de cidades menores onde o preço das mercadorias em geral são maiores e vendidos SEM NOTA FISCAL. Daí pagamos todos os impostos embutidos no produto para lucro do comerciante que diz que aprendeu a surupiar com o governo. E qd dissemos: Já que é sem NF tenho direito a no mínimo 10% de desconto daí a resposta é.. se é assim, posso tirar nota rsrs, é tudo uma grande comédia. O Brasil seria mais rico se não houvesse tanta sonegação. Mais de 50% do comércio e prestadores de serviços sonegam. E.. como estás certo de que o Brasil ainda é "um dos" melhores países do mundo para viver. Vamos então amá-lo, jamais deixá-lo.

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