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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

De como o PIG vê as coisas


A imprensa brasileira, começando pelo Estadão, dividiu o país. Existe o PT, denominado convenientemente pelo jornal de "partido da bandidagem", e o restante dos brasileiros. O PT governa exclusivamente em seu próprio interesse (corrupção), cerceia liberdades individuais (autoritarismo), age somente para se perpetuar no poder (fisiologismo) e por isso não tem legitimidade para participar do debate político na mídia.

Com base nesse diagnóstico, só haverá democracia, na visão da grande imprensa, quando o PT for apeado do poder. Não há meio termo: quem apóia o direito do PT (e de seus simpatizantes) de manifestar opinião está na verdade apoiando um projeto autoritário, e isso por si só já justifica o cerceamento de sua voz, em nome da defesa da democracia. Embora não manifestem abertamente esta opinião, essa é a única explicação lógica que concebo para o fenômeno de radicalização do discurso midiático em tempos recentes (existem outras bem menos nobres e elaboradas, de cunho essencialmente oportunista do ponto de vista econômico, mas farei aqui uma concessão à muito ventilada honestidade da grande mídia nacional).

Não há espaço para contraditório em função disso: dar espaço ao governo nessas circunstâncias equivaleria a "compactuar com o incompactuável", a transigir o que não pode ser transigido. Os escândalos do PT não são meros casos de corrupção ou crime eleitoral, mas estratégias conscientes de concentração de poder e cerceamento da oposição, razão pela qual se tornam muito piores que quaisquer outros casos eventualmente relacionados a outros partidos, ontem e hoje. As reclamações do PT em relação à imprensa se tornam elas próprias sinais inequívocos da falta de compromisso deste para com a democracia. E os poucos veículos da mídia que ainda ousam dar espaço à qualquer versão dos fatos que soe mais favorável ao governo, o fazem porque são instrumentos aparelhados deste. Assim se molda um discurso que se justifica por si mesmo: o PT é corrupto porque tem sede de poder, tem sede de poder porque é autoritário, é autoritário porque não tolera oposição, e não tolera oposição porque é corrupto.

Esse é o discurso atual da grande mídia. Discutir liberdade e pluralismo na imprensa nesses termos é ocioso - até porque nenhum desses valores está sendo de forma alguma ameaçado de fato. O que há é um discurso claro inviabilizando o debate político no país. O PT não tem legitimidade para apresentar suas idéias e muito menos para reclamar disso, ponto. Toda a discussão sobre o papel da mídia na sociedade deve se restringir à uma única questão: ela atende ou não aos interesses e propostas do PT. Se o faz, é porque é partidária do autoritarismo e, destarte, deve ser descartada a priori. Isso já deveria ser um fato óbvio para qualquer um que lê jornais, mas estranhamente, nenhum estudioso da imprensa aponta essa realidade. Ao contrário, insistem em fugir do concreto e divagar sobre valores e ideais da imprensa numa democracia distante anos-luz da nossa. Daí fica difícil produzir uma análise minimamente coerente com os fatos que nos são jogados na cara diariamente.

Texto de Bento – postado no blog do Nassif

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