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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

São Paulo é a sua cidade amanhã!...


Ultimamente São Paulo tem sido vitima quase que diária de inundações. A coisa saiu de qualquer controle, atingindo milhares de paulistanos. Mas as inundações recorrentes em São Paulo não devem ser vistas como um desastre natural simplesmente, mas muito mais como um desastre construído por políticos, urbanistas, engenheiros sanitaristas, entre outros.

Num período de chuvas mais intensas como o que ocorre este ano, tem deixado a população alarmada cada vez que o céu escurecer, começam imediatamente a se preocupar com o que poderá ocorrer com seus bens ou com sua vida. Talvez um dos poucos benefícios disso tudo é o de sensibilizar os administradores públicos, os tomadores de decisão, sobre o uso do solo urbano e das obras de engenharia sanitária das cidades brasileiras.

O planejamento padrão das cidades brasileiras se baseia em ruas e avenidas mais ou menos paralelas aos rios. Mas como os rios teimam em não correr em linha reta, são então retificados para aumentar a vazão e chegar rapidamente às seções livres onde vão gerar inundações, em áreas que se ainda não estão ocupadas, o serão mais dia menos dia. Como as empresas de saneamento não fazem a sua parte, o esgoto também vai para esses canais. Durante o período seco estes canais ficam poluídos com mau cheiro, crescimento de vegetação e de mosquitos.

Para evitar isto, os planejadores urbanos e mesmo a população clama para que estes canais sejam cobertos, jogando para baixo do tapete todos os seus problemas, o que infelizmente é aprovado sem mais delongas por agencias ambientais licenciadoras de balcão. Com o passar do tempo muito lixo também vai para o pobre rio urbano, que agora se transforma num “canal lixão”. Este lixo passa a dificultar o fluxo e entupir canais, o que vai agravar o problema das inundações devido à aceleração do escoamento causado anteriormente pela impermeabilização. Como tudo agora está canalizado, desobstruir essas vias de escoamenteo torna-se praticamente impossível. A canalização dos rios urbanos também sempre é entusiasmadamente apoiado por exploradores imobiliários, pois aumentam em muito a área que podem comercializar e ocupar.

Este tipo de cenário você encontra sem distinção perto de sua casa, em qualquer lugar do Brasil, inclusive aqui em São Bento do Sul. Nesse momento você pode ter certeza: São Paulo é a sua cidade amanhã!...

O resultado deste cenário é a perda de todos os rios urbanos, sem contar os que já estão debaixo do centro das cidades e de que as pessoas nem se lembram mais. Será esta cidade que queremos? Viver num inferno de calor devido o efeito de absorção da radiação pelo concreto, sem áreas verdes e com os rios totalmente fechados e com inundação, não pode ser desejado por pessoas com o mínimo de inteligência.

No entanto, este processo é resultado de ganância imobiliária, incompetência técnica, políticos imediatistas e licenciadores que aprovam estes projetos-problema descuidadamente. As soluções urbanas de politiqueiros proivincianos são quase que invariavelmente direcionadas para escolhas inadequadas, que tratam os rios como lixeiras cobertas. Para buscar a sustentabibilidade e a melhoria dos rios urbanos não apenas deve se ter um foco na drenagem, mas de uma visão urbanística sistemica, sem deixar de considerar o esgotamento e tratamento sanitário, drenagem e resíduos sólidos. Estes serviços estão fragmentados aqui na nossa cidade com resultados invariavelmente ruins. É como quatro médicos tratando de um paciente na UTI sem conversarem entre si. O paciente é a cidade.

Os rios urbanos necessitam de manter seu curso, suas condições de conservação e obedecer a lei ambiental. Para recuperá-lo é necessário despoluir a bacia, amortecer o escoamento e manter protegido o leito do rio.

Os políticos estão acostumados a dizer que saneamento não dá voto, mas um ex-prefeito de Seul desenvolveu um projeto de recuperação do rio histórico da cidade, retirando viaduto e cobertura de concreto, despoluiu a bacia, tratou o esgoto e desenvolveu o urbanismo da área e seu tráfego. Virou notícia e citação em todo o mundo, sendo eleito presidente da Coréia do Sul (o atual), acho que isto mostra como a população estará cada vez mais atenta a este processo e sua maneira de viver.

Urbanismo e a infra-estrutura de engenharia não significa construir uma cidade de concreto, mas criar um ambiente de vida em todos os sentidos, o que infelizmente não acontece.

Você está fazendo algo para mudar isto? Eu estou tentando.

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