* Este blog luta por uma sociedade mais igualitária e justa, pela democratização da informação, pela transparência no exercício do poder público e na defesa de questões sociais e ambientais.
* Aqui temos tolerância com a crítica, mas com o que não temos tolerância é com a mentira.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Campus Party - a nova opinião publica


Do Último Segundo

Coluna Econômica 29/01/2010

O ambiente é caótico. Do lado de fora do galpão cerca de 2 mil blogueiros montaram acampamento. Dentro, em uma imensa área aberta, milhares de pessoas se organizam espontaneamente em um ambiente caótico. Nele, há cinco mesas-redondas simultâneas,nos diversos pontos da área, games gigantes, mesas com centenas de internautas ligados por banda larga.

Há de tudo. Figuras folclóricas da blogosfera, grandes marcas globais de aparelhos tecnológicos, uns rapazinhos que montaram um orelhão telefônico que fala pela Internet, dirigíveis sendo movidos a controle remoto.

Trata-se do Campus Party, um evento que surgiu há dez anos na Espanha – apoiado pela Telefonica – e há três anos se realiza no Brasil. É um enorme encontro de geeks, de uma rapaziada que gosta de vestir bermudas e bonés, nasceu no ambiente tecnológico, abomina regras sociais, cultiva ao mesmo tempo o individualismo e o trabalho em grupos, em redes.

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A inauguração contou com o governador de São Paulo José Serra. Hoje, com a Ministra-Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

A presença de futuros candidatos à presidência da República não é mera coincidência ou extravagância. Mas o reconhecimento da influência cada vez maior da comunidade da mídia digital.

Nos próximos anos, essa comunidade meio dispersa, meio inorgânica, começará a se articular de forma mais consistente e passará a ter influência política. Poderá se contrapor às pressões das emissoras de TV aberta, defendendo as cotas para a animação nacional, por exemplo. Poderá se articular pressionando o Congresso na defesa de teses de seu interesse.

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Esse mesmo processo está se dando com movimentos sociais por todas as partes do país. Muitas dessas manifestações têm se dado através das diversas conferências nacionais – de Comunicação, de Cultura, de Direitos Humanos etc.

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Alguns setores vêem com receio esses movimentos, como se o país de repente pudesse mergulhar em uma fase de caos político, similar ao pré-1964 no Brasil ou aos anos 30 na Europa.

Trata-se de um pessimismo injustificável. A Internet e a modernização do país está permitindo, de forma pacífica, a incorporação de novos grupos ao jogo político. Não há garantia maior de institucionalização da democracia do que esse método de incorporação política. A alternativa seriam os conflitos sociais, os confrontos que permitissem abrir espaço na pancada.

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Nos próximos anos, se verá o desabrochar de um jogo democrático inédito no país. Até algum tempo atrás, a grande mídia – meia dúzia de jornais no eixo Rio-São Paulo-Brasilia, uma ou outra emissora de TV – controlavam o debate político. Só se tornava fato político o que passasse por ela.

Com isso, ficavam de fora do jogo político os interesses das cidades do interior, do agronegócios e da agricultura familiar, da indústria nacional e da pequena e micro empresa.

A ampliação dos blogs e sites mudará completamente esse jogo. A partir de agora, não haverá mais donos da política – nem grandes jornais nem partidos políticos. Os próximos anos exigirão dos governantes, cada vez mais, a capacidade de negociar e de prestar contas de seus atos.

texto do Luis Nassif

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ministro da agricultura quer ser Rei do Brasil - mas é a verdadeira anta


Porto Alegre – O grande campeão do dia no quesito declarações esdrúxulas e situações estranhas, daquelas que assustam o imaginário popular, é o ministro da Agricultura e Pecuária Reinhold Stephanes, esse sem duvida uma anta de primeira grandeza.


Vamos aos fatos: O ministro, discursando a produtores rurais no Paraná nesta terça (26/01), reclamou que o setor agropecuário não conta com a devida atenção que merece e não usufrui do poder a que teria direito:

“Falta ao setor mais visibilidade, participação, capacidade de mobilização e de reivindicação. No sentido que, efetivamente, pela importância daquilo que ele produz, daquilo que ele representa na sociedade, ele também represente em termos de poder de decisão.”

Ouvi duas vezes a entrevista que ele concedeu e demorei a crer que o ministro se referia ao agronegócio brasileiro. Pois a fala seria bem mais apropriada para descrever o universo dos trabalhadores rurais, que se esfolam para gerar a riqueza no campo ficando apenas com um pequeno quinhão do que é produzido.

O setor agropecuário conta com uma elite política e econômica extremamente influente que, grosso modo, está no centro das decisões desde as capitanias hereditárias. O tripé latifúndio, monocultura e escravismo ajudou a forjar o que somos nós e nossa identidade, atravessando colônia, império, república, chegando a ter voz e assento em todos os governos pós-redemocratização.

Em seu discurso, o ministro cobrou mudanças nas propostas do 3o Programa Nacional dos Direitos Humanos que tratam da reintegração de posse de terras ocupadas. Disse que o ministro Nelson Jobim (Defesa) conseguiu o que queria porque tinha o Exército ao seu lado. Sob aplausos, afirmou que há milhares de agricultores, um exército deles, dispostos a protestar em Brasília.

Esqueceu-se de dizer que vários agricultores já possuem um exército, ou melhor, milícias com organização, treinamento e poder de fogo bem maior que os tradicionais jagunços. Essas milícias particulares, formadas por empresas de segurança ou arregimentadas por conta própria, tocam o terror no campo para garantir a manutenção do status quo.

Enquanto isso, exibições públicas de força, como o cavalo de pau de tratores no gramado do Congresso Nacional ou o bloqueio de rodovias por agricultores insatisfeitos não são raras, mas existem em menor número se comparadas com as pressões que ocorrem em corredores palacianos ou nos parlamentos. Bilhões de reais em dívidas são perdoados pelo Estado (ou seja, você, eu, nós pagando pela incompetência administrativa alheia), outros bilhões colocados em linhas de financiamento que depois não serão honradas. O de sempre: lucros são privados, prejuízos são públicos.

Rasga-se as leis ambientais, fundiárias e sociais para garantir o que o ministro chama de “sentimento de segurança”, ou seja, a confortável sensação de impunidade para quem desmata, rouba terra pública, descumpre a função social da propriedade ou expulsa indígenas de suas terras. Há anos o projeto de emenda constitucional que prevê o confisco de terras flagradas com trabalho escravo está parada no Congresso por pressão da bancada ruralista, grupo de parlamentares que representam essa elite e seus objetivos.

Esse grupo é sim chamado ao debate, mas muitas vezes se furta a ele. Por exemplo, a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) foi eleita uma das três instituições delegadas da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo na conferência que finalizou o PNDH3 em 2008. Não apareceu para os debates. Depois, a direção da entidade diz que o programa foi feito sem a participação deles. Muito cômodo, é claro.

Tudo isso me leva a crer, caro ministro, que para atender o seu pleito, ou seja, dar mais poder ao agronegócio brasileiro, teremos que mudar a forma de governo. Abaixo a República e que tragam de volta a monarquia. Nesse caso, o senhor pode acabar sendo alçado à condição de rei. Ou a senadora presidente da CNA, à de rainha (Uiiii !!!...)

Adaptado do ótimo blog do Sakamoto


sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Heineken commercial – very funny




Povo bonito, cerimonia mágica



CLIQUE PARA AMPLIAR

Esta foto, para mim, é a de maior significado do dia. É a cerimônia de purificação indígena, na qual o presidente reeleito da Bolívia, Evo Morales, recebeu um bastão que simboliza a sua condição de líder da comunidade indígena. Uma mulher idosa e uma menina conduzem o escolhido em danças e ritos ancestrais que percorrem os quatro cantos do milenar templo de Kalasasaya (forte da pedra parada, na língua aimara).

O ritual, reza a tradição indígena, purifica e prepara para exercer o comando.


Morales falou em três línguas: Aimara, quechua e espanhol. Falou:


A partir deste local milenar nasceu uma nova luz, uma luz de esperança para o povo boliviano e para a humanidade,que emerge das pessoas que nunca esqueceram os seus antepassados, lembrando sempre a maneira de viver com solidariedade e, especialmente, em harmonia com a Mãe Terra.”


Disse “... os povos devem estar de pé, nunca de joelhos ante o capitalismo...e não é simples livrar-se da herança colonial, entre eles a corrupção”. E que “...o colonialismo permitiu o saque dos recursos naturais da Bolívia e sempre discriminou aos indígenas”.


Agora, o mundo terá que vê-los, a Evo Morales e aos bolivianos como o povo altivo e independente que são.


Eu, henry, também já me purifiquei no Templo Sagrado de Kalasasaya, a lado da Pirâmide de Acapana, em Tiahuanaco, na Puna andina. É uma experiência mágica.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

The Tucano Way of Life

Leonel Pavan controla o bas-fond de Balneário Camboriu, a maior lavanderia do sul da nossa Pindorama. Ali, no mercado imobiliário principalmente, se lava de todo tipo de dinheiro: de trafico de drogas e armas, sonegação, de roubo de carros, de adulteração de combustíveis, jogatina ilegal e o que se possa imaginar... Esse caso ai é só a ponta do iceberg.

O que ainda não entendi é por que a RBS roeu a corda dessa gente agora. Sempre foram coniventes com tudo até ontem

(PARA NÃO FICAR TRUNCADO, DEIXE CARREGAR O VIDEO PARA DEPOIS ASSISTIR)

FAÇA ASSIM: dê o PLAY [>] e logo em seguida dê pausa [||] e espere a barrinha vermelha carregar (vai demorar alguns minutos), daí pode assistir sem interrupções

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Como o Estadão engana os otários de seus leitores



O planfetão golpista DEMo-Tucano O Estado de São Paulo definitivamente perdeu o senso de ridículo.

Com um editorial esdrúxulo na sua edição de hoje, o planfetão golpista DEMo-Tucano O Estado de São Paulo mostra ao que se presta e brinda os seus leitores com desinformação pura.

Sai detratando a realização, em março próximo da 2ª Conferencia Nacional de Cultura como “...mais um ataque à liberdade de informação e de opinião... patrocinados e coordenados pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva” ou “um amplo esforço de liquidação do Estado de Direito e de instalação, no Brasil, de um regime autoritário”.

Nota-se de cara que o editorialista não tem o mínimo conhecimento de como funcionam as conferencias nacionais nos diversos temas: Cidades, Meio Ambiente, Saúde, Cultura, etc., que são instrumentos da maior legitimidade democrática na formulação de políticas publicas. Ou não tem conhecimento de fato ou está agindo de má fé, o que parece ser o caso aqui.

Antes de desembocar numa conferencia nacional, foram feitas conferencias estaduais, estas precedidas das conferencias regionais e/ou municipais. As aspirações dos representantes da sociedade organizada são discutidas e são repassadas ao nível seguinte de debates, até culminar na respectiva conferencia nacional, que vai servir de base norteadora para as formulações das políticas publicas pertinentes. Não há nada mais democrático do que isso.


Tira conclusões alarmistas absurdas de uma conferencia que sequer aconteceu, e no ultimo parágrafo de sua diarréia discursiva informa os imbecis de que embora deva se basear nas definições das conferencias estaduais e regionais, estas “não têm o poder de transformar tolices em ideias inteligentes nem propostas autoritárias em projetos democráticos...” Que coisa melancólica!

Por essas e por outras é que me recuso a discutir assuntos sérios com meus amigos que se informam nesse tipo de jornalismo de esgoto.



PS. Comentario de um esclarecido leitor:

19/01/2010, Joaquim Paulino Leite Neto

Sou favorável à volta dos militares ao poder.Não havia corrupção nos governos militares, Figueiredo morreu pobre, sem um tostão. Lula e sua gente estão podre de ricos de tanto roubar. Mas a mamata vai acabar como acabou em 1964 para o terrorista jango. Av



ATUALIZAÇÃO 21/01 13:47

A analise definitiva sobre essa engabelação do jornalão paulista foi feita por Glauber Piva, aqui.

Não há mais nada a dizer!


Cerveja brasileira - uma loura muito falsa e ordinária - 2


Às vésperas do último Natal. O físico Rogério Cezar Cerqueira Leite denunciou uma grave malandragem da cervejaria brasileira: a substituição do tradicional malte, a cevada germinada, usado nas boas cervejarias mundiais, por outros cereais germinados mais baratos, matéria que reproduzi neste blog.

Uma semana depois o químico Silvio Luiz Reichert, diretor da Anheuser-Busch Inbev, proprietária da AmBev, afirma que “A indústria brasileira de cerveja zela pela qualidade de seu produto. Ela sabe que seu consumidor é exigente e tem muito bom gosto”. E que o emérito professor lançara mão “de argumentos ora incorretos, ora infundados, mas sempre injustos”. “Números errados e premissas levianas”, acusa Reichert. (Folha de S Paulo*, 30/12/2009).

Segundo o representante da Anheuser-Busch Inbev, a cervejaria brasileira usa a percentagem de malte (cevada submetida a processo controlado de germinação) e dos demais cereais nos limites da legislação brasileira. “Mais malte é igual a cerveja mais encorpada e mais pesada; menos malte (…) é igual a cerveja leve, refrescante, suave”, argumenta Reichert. Acrescenta que tanto o lúpulo quanto 65% ou mais da cevada que utiliza são importados de centros produtores de qualidade, dos EUA e da Europa. E que não usa conservantes, pela boa qualidade do lúpulo e por impedimento legal.

Quinta-feira ultima (14/01), o físico Cerqueira Leite volta ao assunto e à carga: Quer saber o emérito professor do “engodo de que foi vítima o governo e o povo brasileiro pela fusão Antártica-Brahma, quebrando princípios e a legislação contra a formação de cartéis. Com a desculpa de que, fundidas, poderiam enfrentar a competição com multinacionais – para ser o cartel, em seguida, absorvido por empresa estrangeira”. Também quer saber sobre a perversa prática de coação a cervejarias nascentes, para absorvê-las e aniquilá-las ou também banalizar a qualidade de seus produtos. (Folha de S Paulo*, 14/01/2010).

Cerqueira Leite acusa Reichert de usar de mentira, eufemismo e sofisma em suas argumentações para esconder o fato de que a AmBev usa mais o milho do que a cevada por causa do seu superior grau de conversão em álcool. E de usar de embuste para negar o uso de conservante em suas cervejas. Sobre o uso de lúpulo de boa qualidade, pergunta o professor da Unicamp: “Por que as cervejas belgas, inglesas e alemãs que usam lúpulo de boa qualidade não precisam de antioxidantes e estabilizantes?

O que mais chama a atenção é o fato de que essa polêmica, que interessa a todos os brasileiros, mesmo aos que não bebem cerveja, não tem a menor repercussão na grande imprensa nacional. Como não tem repercussão a questão do uso dos transgênicos. E como não tem repercussão a questão progressiva do ganho de peso excessivo pela população brasileira pelo uso incorreto da alimentação. Do lado dos que defendem a “livre iniciativa empresarial” está um poderoso lobby do setor de comunicação, mídia e propaganda, que dá a linha do consumismo sem porteira.

Quem poderia contrariar a Ambev, a Monsanto, a Perdigão? Os patrocinadores, das TVs e dos jornalões? O alerta quixotesco do professor Cerqueira Leite descortina o baixo nível ético que envolve o setor cervejeiro: “abuso repugnante (…) a AmBev elabora suas indecorosas propagandas televisivas, que induzem o cidadão desavisado a consumir suas cervejas pela associação com objetos de desejos primitivos: carros de luxo, mulheres seminuas (…) promessa de sucesso.”

reproduzido do Boletin HS Liberal

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

CNN tece loas à Cuba por sua atuação no Haiti

Sempre que me envolto em discussões político-ideológicas com meus amigos de boteco, nunca demora mais de 10 minutos para que meus interlocutores puxem aquela máxima de “... mas vai me dizer que você acha que em Cuba... isso... em Cuba aquilo... em Cuba é uma miséria... e por ai vai.

Bem, mas no Haiti, ao invez de mandar um Ministro da Defesa fantasiado de palhaço, os Cubanos mandaram equipes médicas de altíssimo gabarito.

Vejam voces mesmos:

Esse video é da CNN, pra ninguém me vir aqui dizer que é coisa de “comunista”.

Não sei como legendar um vídeo do VocêTuba, mas temos uma tradução livre do que o repórter fala:

“Há muito poucos lugares onde os haitianos podem ir quando precisam de cuidados médicos urgentes no centro da cidade. No entanto, encontramos uma: o Hospital La Paz, operado pelo pessoal médico cubano aqui no Haiti, juntamente com equipes da Espanha e América Latina ”


“E é incrível ver: Eles estão dando atendimento de qualidade aos feridos graves, média de seiscentos a setecentos pacientes por dia e fazem várias dezenas de cirurgias diariamente. Tem três centros cirurgicos que trabalham em turnos redondos, 24 horas por dia, sete dias na semana e é um dos poucos lugares em toda a cidade onde os haitianos podem ser atendidos com uma chance razoável de sobreviver ”


“Nós vimos muitas lesões traumáticas lá. Eu não sei quantas vezes vimos amputações, fraturas expostas, ferimento sgraves. No entanto, estas equipes médicas pressionadas pela emergência, encontraram maneiras de cuidar de todos, apesar da critica falta de suprimentos - suturas, oxigênio, anestésicos e água - de que necessitam para isso. Eles compensam a falta de abastecimento com aquilo que chega da Espanha ou enviado de lá (da ilha - Cuba) e tudo funciona de maneira muito organizada.” Steve Kastenbaum CNN Haiti

Debates sobre mudanças no Código Florestal já têm datas marcadas


Integrantes da comissão especial que analisa mudanças no Código Florestal definiram o cronograma das próximas audiências públicas promovidas para discutir a reforma. Os debates serão retomados no dia 2 de fevereiro em Goiânia e seguirão para o interior de São Paulo e Minas Gerais. As discussões nos estados prosseguirão até 8 de fevereiro, percorrendo cidades como Palmas, Manaus e Boa Vista. A intenção é ouvir sugestões e críticas à proposta, como explica o presidente do grupo, deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR).


"A comissão está se direcionando aos biomas brasileiros e nós começaremos os trabalhos no bioma mais frágil, a Caatinga. O que se quer com esse código, que nós chamamos de Código Ambiental, é a reformulação da política ambiental e florestal no Brasil", ressalta Moacir Micheletto.

Das audiências, vão participar cientistas e representantes de universidades, de ONGs e do governo.

Licenças ambientais

Entre as mudanças em debate, está a descentralização das licenças ambientais e a revisão de conceitos como os de áreas de preservação permanente e reserva legal, que é o percentual de vegetação a ser conservada em uma propriedade e que varia de acordo com cada bioma.

Uma das ideias é permitir que essa reserva seja computada como área de preservação. Moacir Micheletto considera que as audiências darão suporte à elaboração do relatório.

"A linha-mestra do texto é, primeiro, fazer com que o zoneamento ecológico-econômico seja o grande instrumento de elaboração da política ambiental. Em segundo lugar, é fazer cumprir a Constituição, segundo a qual compete à União determinar as normas de ação relativas ao meio ambiente, com a operacionalidade a cargo dos estados”, explica o deputado.

A intenção de Micheletto é que a proposta de reforma do código seja votada na comissão em março, para ser apreciada em Plenário já em abril.

Por Mônica Montenegro, Agência Câmara

(Envolverde/Agência Câmara)

ATUALIZAÇÃO 22:07

Licença só com o Presidente

A licença prévia para grandes empreendimentos, como a hidrelétrica do rio Madeira, deveria ser um ato do presidente da República, na opinião do ex-diretor de Licenciamento do Ibama, Luiz Felippe Kunz Júnior.

Basicamente, o que Kunz quer dizer, e tem razão, é que o licenciamento ambiental é uma questão de responsabilidade do governante diante da sociedade que o elegeu, seja no nível federal, estadual ou municipal. E, com a autoridade de quem foi afastado do cargo por "atrapalhar" o licenciamento das usinas do rio Madeira, Kuns assegura que hoje “os chefes do poder executivo tem pouca responsabilidade com os problemas ambientais”.


De fato, os órgãos ambientais, apesar de fazerem parte da estrutura administrativa do poder executivo, são encarados como os responsáveis pelo licenciamento, no sentido jurídico do ato. Quer dizer, se alguma coisa der errado, a responsabilidade é do órgão que aprovou o licenciamento e, no máximo, seu presidente, ou diretor, é demitido.


Mas é possível raciocinar também que, como os ocupantes desses cargos normalmente são indicados pelo chefe do executivo, este, em última análise, é o verdadeiro responsável pelas consequências de um eventual licenciamento indevido, embora nunca responda pelo ato. Na verdade, ninguém responde, como ninguém respondeu ainda pelas tragédias de Angra dos Reis.

A irresponsabilidade é tanta que, como observa o próprio ex-diretor do Ibama, "em geral, os governantes sucateiam os órgãos ambientais, destinando orçamentos insuficientes para a execução de suas tarefas e depois os pressionam para que dêem celeridade à analise de projetos de desenvolvimento.


A justificativa é essa: “Eles não tem nenhum compromisso com os possíveis resultados de degradação e poluição que possam advir da atividade, podendo inclusive lavar as mãos e culpar o órgão ambiental pela omissão na análise. Mas se essas autoridades tivessem que emitir a licença, teriam que responder por suas conseqüências”.

Luiz Felippe Kunz Júnior tem larga experiência no assunto. Trabalhou na Secretaria de Meio Ambiente de Porto Alegre, na criação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do RS e foi o primeiro diretor do Departamento de Florestas e Áreas Protegidas gaúcho. além de ter integrado a equipe da senadora Marina Silva, no Ministério do Meio Ambiente.


Para ele, “o licenciamento não dá conta de resolver os problemas ambientais, pois depende da implantação de outros instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente”. O processo é fragmentado e o órgão ambiental não consegue dar resposta adequada devido ao grande volume de trabalho e às pressões para liberação das licenças.

Por isso, Kuns sugere um caminho diferente do atual que, em sua opinião, "poderia até agilizar o processo, como tanto querem os empreendedores". A trajetória seria a seguinte: o órgão ambiental faria sua análise e encaminharia ao governante. E ele é quem assumiria o ônus da decisão, se a proposta é ou não viável sob todos os aspectos. Com isso, “a discussão sobre os impactos de grandes empreendimentos ganharia outra dimensão política, com benefícios para a sociedade”.


O ex-diretor do Ibama falou, nesta quinta-feira (14/01), em Porto Alegre, a técnicos, membros de organizações não governamentais e professores universitários, no encontro “Quem faz o Que pelo Corredor do Rio Pelotas”, que tem o objetivo de chamar a atenção para o potencial da região dos Campos de Cima da Serra, promovido pelo Projeto Mira-Serra, com o apoio da TNC, Igré e Centro de Apoio Sócio-Ambiental (CASA).


Por Celso Dobes Bacarji, da Envolverde

domingo, 17 de janeiro de 2010

Para os 9 leitores desse blog alegrarem o fim de domingo


JEAN LUC PONTY - violino
AL DI MEOLA - guitarra classica
STANLEY CLARKE - baixo

musica - RENAISSANCE
show - 02 de setembro de 2008, em Los Angeles CA

sábado, 16 de janeiro de 2010

Desastres naturais e São Bento do Sul – 2

Foto: divulgação da PMSBS - CLIQUE PARA AMPLIAR

O Prefeito interino Flávio Schuhmacher e outros integrantes da equipe do governo municipal, estiveram na quinta-feira, 14/01, visitando alguns pontos afetados pela chuva em São Bento do Sul.

Certamente uma iniciativa necessária para que a administração possa tomar conhecimento do que acontece no município, mas de pouca efetividade, uma vez que é uma ação pontual e, no máximo, de caráter corretivo.

O que precisamos no município é adoção de políticas efetivas de caráter PREVENTIVO e não ações isoladas emergenciais e corretivas, quando o problema já se instalou. O nosso principal problema potencial são áreas de risco por deslizamento de encostas em áreas já urbanizadas, ou na eminência de o serem. Também há algumas áreas de inundação, mas com menos relevância potencial para a ocorrência de catástrofes.

Certo, alguns pontos muito críticos já foram detectados há décadas e na maioria das vezes nenhuma providencia real foi tomada. É um jogo de empurra entre a prefeitura e a população: a causa principal é a ocupação irregular de áreas de risco à revelia das normas e licenciamentos previstos. É a imprudência e falta de informação da população que coloca em risco seus familiares. Mas outro fator deletério associado a isto é a falta de zoneamento destas áreas por parte do município.

No texto anterior relacionado a esse tema aqui no blog, já mencionei que embora o município tenha seu Plano Diretor – que entende-se como as diretrizes básicas de planejamento urbano – existe dificuldade por parte da administração atual seguir esses parâmetros, pois consideram esse instrumento como uma conspiração do outro grupo político da cidade para dificultar a sua vida. Além disso tem a tendência de achar que, como autoridades constituídas por ampla vantagem eleitoral, estão isentos de observar essas diretrizes.

Também existe uma disputa por parte da atual administração municipal com o Conselho da Cidade, que é o colegiado responsável por garantir a operacionalidade do plano diretor e discutir os problemas globais do município, no sentido de equacionar soluções. Aqui os dois lados tem seu quinhão de culpa no mau entendimento da questão. A administração anterior permitiu que o conselho fosse politizado e achou que podia garantir sua influencia nele forçando a eleição do atual presidente. Com a derrota desse grupo nas ultimas eleições passaram a usar veladamente o conselho para alfinetar a administração atual. Isso criou um clima pouco construtivo e o conselho experimenta um esvaziamento.

Alguns problemas recorrente na sociedade brasileira também observamos aqui em São Bento do Sul:

  • após as chuvas essas questões são esquecidas até a próxima temporada;
  • Existe um incentivo pernicioso da forma como estado brasileiro atua sobre o problema. Quando ocorre um evento, o prefeito, junto com o governador declara calamidade, recebe auxilio a fundo perdido e não necessita de licitação pública para gastar o dinheiro. Isso é considerado o paraíso para qualquer administrador publico. Uma piada retrata bem este caso: Um Prefeito hipotético de uma cidade em inundação procura o governador para declarar calamidade, enquanto espera, recebe uma ligação do seu assessor dizendo “Prefeito acelere os entendimentos que o rio está perigosamente diminuindo o nível !!“.
  • Desastres climáticos sempre ocorreram, mas é necessário diminuir seus impactos e cabe aos governos trabalharem todo o ano e não somente durante o evento.

Haiti e o estado de sitio permanente



Foto: REUTERS Eduardo Munoz – CLIQUE PARA AMPLIAR

Completando o post anterior, publico texto do jornalista Aloisio Milani para entender o que está acontecendo no Haiti:


Não foi só ontem, não é só hoje. O Haiti vive um “estado de sítio” constante. Quando não “treme” pela pobreza extrema – aqui entendida como desemprego epidêmico, fome crônica e a ausência de saúde e educação públicas -, é a vez das crises políticas e das tragédias naturais: tempestades tropicais, enchentes e furacões. Para dar um exemplo, quatro furacões deixaram cerca de mil mortos e 18 mil desabrigados em 2008. Corpos apodreciam na água das enchentes, não havia estrutura de socorro, o dinheiro e a ajuda humanitária chegavam lentamente. Há pouco, semanas atrás, acabou a temporada de furacões na América Central e, agora, o país se debate com um surpreendente terremoto de magnitude inédita nos últimos 200 anos.

Aliás, dois séculos atrás é aproximadamente o tempo histórico da vitória da única rebelião de escravos que levou à independência de uma nação desde a Antiguidade clássica. Um passado glorioso que vem sendo ofuscado por um presente de pobreza e crises. Desde a deposição do ex-presidente Jean Bertrand Aristide, em 2004, a situação política oscilava entre momentos de paz, violência e fragilidade política. Mas a pobreza resistia. E a cada fenômeno natural, o espectro da destruição pairava sobre eles. A diferença é que desta vez, a tragédia une brasileiros e haitianos. Haverá mais confirmações de mortes entre os brasileiros capacetes azuis e diplomatas da ONU. A médica Zilda Arns teve ironicamente sua vida ligada ao país do continente americano com um dos piores índices de desnutrição e mortalidade infantil, onde queria implantar as bases da Pastoral da Criança.

O impacto do terremoto sobre o Haiti é brutal porque seu epicentro foi muito próximo de uma das regiões mais populosas, a capital Porto Príncipe. O país tem um território comparável ao de Alagoas, com cerca de 8 milhões de pessoas. Mais ou menos 3 ou 4 milhões vivem só na capital, em favelas de tijolos frágeis, de estruturas baratas, improvisadas. Na cidade, onde os ricos moram nos morros e os pobres na parte plana próxima ao mar, o impacto foi maior em bairros com construções de mais de um piso. A região do Palácio do Governo, vizinha da favela de Bel Air, foi destruída. A situação se repete em bairros mais horizontais, como Carrefour, Delmas e Cité Militaire. Na região de Cité Soleil, de barracos de zinco e tijolos finos, os danos não foram menores.

O distrito de Petion-Ville, no alto da cidade, onde ficam as sedes das embaixadas e organizações internacionais, sofreu grande impacto. Até o Hotel Montana foi atingido, um quatro estrelas versão haitiana, onde morreu o general brasileiro Urano Bacellar em 2006. Passarão semanas para as contagens dos mortos e desaparecidos. O Palácio do Governo, que desmoronou quase completamente, era um centro político e uma espécie de residência do presidente. No hall revestido de mármore sob a cúpula central do palácio, ficavam as estátuas de Simon Bolívar e Alexandre Petion. Frente a frente. A poucos metros da vista ampla da planície da praça. Esses símbolos foram completamente soterrados no terremoto.

Um país imóvel

Vale lembrar que, em novembro de 2008, uma pequena tragédia se abateu sobre o distrito de Petion Ville. Ali, sem temporal, sem vento, sem terremoto, a escola primária La Promésse desabou. Simplesmente veio abaixo pela precariedade de sua construção. Matou cerca de 100 crianças e feriu outras 150. O presidente haitiano, René Préval, disse na época que a fragilidade e a debilidade do Estado permitia a existência de construções precárias e ocupações ilegais, o que aumenta a possibilidade de vítimas. O Haiti tentava reestruturar seu Estado com a ajuda da quinta missão de paz da ONU nas últimas décadas. Mas ainda não havia um sistema de defesa civil estruturado, o que vai piorar a situação agora no socorro e atendimento a feridos. Quem não morreu diretamente pelo terremoto corre o risco de morrer por falta de estrutura de bombeiros ou atendimento médico.

Porto Príncipe já possuía uma infra-estrutura precária. Energia elétrica era luxo. Quem tinha convivia com apagões diários. A distribuição de água era feita, muitas vezes, por caminhões-pipa e fontes de água. Em bairros inteiros, a população se abastecia com baldes. Cité Soleil, a maior favela da cidade, era um exemplo. Agora, com o terremoto, a estrutura de abastecimento de água também sofreu. Num país que importava mais da metade da comida para manter as necessidades básicas da alimentação de seu povo, a água voltou a ser escassa. Todo o combustível do país também é importado. Dificilmente um plano de emergência, com o envio de maquinário pesado, conseguirá colocar em prática um mutirão de salvamento em grande escala para evitar mais mortes. O país está quase imóvel dois dias após o abalo principal.

A ajuda da ONU e a dívida externa
O número de mortos – ouve-se agora uma estimativa do governo haitiano de cerca de 50 mil – seria pelo menos cinco vezes maior do que o total de brasileiros enviados à missão de paz das Nações Unidas nos últimos seis anos. O terremoto deve aproximar mais Haiti e Brasil. Nos últimos tempos, nossos enlaces com o país caribenho aumentaram. Além dos capacetes azuis, ativistas, acadêmicos e religiosos procuravam estreitar relações com o povo. A estrutura da ONU no país sempre esteve longe de mudar o perfil da pobreza e das necessidades básicas para o país se reerguer: trabalho, saúde, educação. Iniciativas como a da médica Zilda Arns eram um pedido de entidades haitianas desde a chegada da ONU por lá, há seis anos. Envio de médicos, engenheiros agrônomos, professores, gestores públicos, entre outros. Tudo que vai faltar em dobro agora.

Do fim da vida de Zilda Arns no Haiti, cabe ainda um recado, acredito. A mudança no perfil da missão da ONU no Haiti é urgente mais uma vez. O estágio relacionado à segurança pública pode ter sido questionável, mas há tempos foi superado. Temos a oportunidade agora de ajudar com menos tropas militares e mais parcerias para a reconstrução e desenvolvimento do Haiti. A começar pelo perdão da dívida externa de cerca de 2 bilhões de dólares, uma porcentagem ínfima na comparação com os rios de dinheiro que os países ricos gastaram para socorrer o sistema financeiro internacional da gana de seus próprios especuladores.


Aloisio Milani é jornalista e roteirista. Mantém um blog independente sobre o Haiti, para onde já foi cinco vezes desde 2004. Escreve um livro-reportagem sobre a situação social e política do país mais pobre das Américas.